Clube da Dona Menô
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A nova modelo brasileira: Marcia Garcês


 
Eu e Luiz Martins estamos a todo vapor produzindo o book de fotos de Marcia Garcês. Já a fotografamos em ambiente fechado e na semana que passou fomos à Quinta da Boa Vista, no bairro de São Cristóvão, com ela e sua ajudante.
 
Fomos em quatro, mas parecíamos um só corpo, tal era a interação de todos nós nesta sessão fotográfica. Marcia se desdobrava para fazer posições boas e nem imaginava que enquanto ela fazia pose para uma foto, muitas eram tiradas por Luiz. Ele com aquele silêncio de mineiro, calmo, se comunicava com ela até por pensamentos.
 
A empregada de Marcia, está se saindo excelente auxiliar para quem tem deficiência motora e até deu seus pitacos nas fotos que fazíamos. Eu, por minha vez, fazia a maior zona com tudo e todos. O grande problema era eu ficar quieta e parar de falar piadas. Como não havia telão nenhum pra eu segurar (a única forma que Luiz encontrou pra me fazer sumir de cena) deram-me a função de segurar chapéu pra tapar o sol no rosto de Marcia. Até que Dani, com pena de mim, abriu uma canga e disse: “Deixa que eu faço parede...”. Quem não gostou foi Luiz...



Escolhemos a Quinta, onde há o museu do Palácio Imperial, o zôo e maravilhosos campos e plantas. Além de fácil acesso, é mais ou menos adaptado para quem usa cadeira de rodas. Digo “mais ou menos” porque só quando acompanhamos um cadeirante vemos o quanto é difícil o lazer dessa pessoa, como, também, tudo é muito cansativo e demorado, o quanto alguns passos nossos significam para o deficiente metros de percurso.



Ela, que não anda e tem apenas alguma força muscular em um braço, quis sentar nos bancos; quis dobrar as pernas; colocar o pé numa estátua; cruzar as mãos; colocar as mãos atrás da nuca, tudo o que uma pessoa sem problemas faz e nem percebe o quanto isto tudo é tão importante. 
 
Pensei comigo: “Ela tem que ser fotografada com os braços abertos!”. Como, deitada, pela menor ação da gravidade, ela tem mais movimentos, nós a colocamos sobre a grama. Daí não prestou... Ela fez até ginástica! Ela pedia para ajudá-la nos movimentos e sei que ela exigiu bem mais de seu corpo do que em suas fisioterapias diárias. Sua força de vontade era enorme.
 
A alegria reinou naquela manhã. Rimos muito e não tivemos tempo para perceber as pessoas que nos olhavam a fotografar uma deficiente física em posições ditas “exóticas”... Mas Márcia percebeu, e eu lhe perguntei se ela se incomodava. Ela disse que obviamente não! E acrescentou: “Uma mulher ali saiu dizendo que eu sou modelo!”.
 
Eu digo: ela é modelo fotográfico, da melhor categoria, mas é, principalmente, modelo para todos nós na vida.
 
Leila Marinho Lage
Rio, 11 de julho de 2010
Clube da Dona Menô
Fotos de Leila M. Lage

Assistam ao vídeo que eu e Luiz fizemos para Marcia:
http://www.youtube.com/watch?v=NGYkyFMW-ZM


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