Clube da Dona Menô
Dona Menô

EPA!
O RESTAURANTE




Eu sempre fotografo o que como, os pratos, antes de traçá-los, mas como na Quinta da Boa Vista tudo foi meio atrapalhado, não deu... Espero que Luiz tenha fotografado o que comemos, mas posso detalhar para vocês. Era pra ser picanha frita na pedra, mas o mais rápido era picanha ao molho a campanha, que nada mais é que a mesma picanha com farofa de ovo, arroz, batata frita (seca e sem graça), molho à campanha (alho, azeite, água, cebola, pimentão e sei lá mais o quê...).

Apesar de o restaurante não ter rampa, os garçons e o restaurante se "adaptaram" e logo a gente tinha mil pessoas para subir cadeira de rodas, desarrumar mesas e decorações e até bifinho cortadinho, servido quentinho para Marcia.




Antes, para dissertar sobre o início da manhã do dia 9 de julho de 2010, sexta-feira, quando eu desmarquei minhas doentes para fazer as fotos de Marcia, eu estava meio excitada, meio nervosa, não sei nem bem razão... Eu estou acostumada a fotografar e cobrir eventos, mesmo tendo pouca tecnologia, pois eu me valho do meu instinto. Naquela manhã eu estava nua...

Ninguém chegava, até porque eu cheguei uma hora adiantada, naquela manhã linda ensolarada. Luiz estava trabalhando, Marcia estava se preparando para sair, e eu ali doida pra começar...

Marcamos no “Restaurante da Quinta”, que fica bem perto do zoo. No nosso simplório entendimento, deveríamos começar pelos bichinhos do zoológico, depois iríamos para os campos, depois fotos na relva, e, quem sabe, o museu (que não deu tempo de ir), ma eu pensava em acabar a tarde com uma bela comilança no tal restaurante, uma picanha assada na pedra, que eu já conhecia.

Perguntei na véspera se Marcia tinha alguma restrição alimentar, e ela disse "Pra ser sincera, não. Não devo engordar, mas adoro picanha!". Tava feito o menu...
 
Eu lembrava da última vez em que estive neste restaurante, que infelizmente não tenho foto. A frente é maravilhosa e eu não consegui tirar uma foto que prestasse, pois o sol da manhã não era compatível com uma compacta.

Fiquei à frente do local, que estava fechado, esperando os amigos, quase me torrando no sol, sentadinha num banco de madeira. resolvi tirar retrato de um monte de flor e descobri coisas muito bacanas, que jamais prestei atenção até então, mesmo sendo a Quinta da Boa Vista meu reduto desde jovem.

Marcia chegou quietinha, acompanhada de sua "sombra amiga". Ela me avistou de longe. Na verdade, a sua assistente subentendeu que aquela pessoa estranha, ali naquela hora, fotografando árvores, quase trepada numa delas, era eu....

Não tive tempo de nada. Dei beijinhos e fui logo falando: "Antes de Luiz chegar e fotografar, querem beber e comer?". Pensei comigo que eu agia como uma portuguesa. Minha mãe sempre colocava “bolinhos de resto” na boca de quem chegava em minha casa. Todos iam à minha casa na hora do almoço pra nos visitar-nos, não sei bem a razão.

Marcia disse: "Acabei de tomar café da manhã, mas adoro doce e até comeria um...". Ferrou... Era cedo e o restaurante estava vazio; não estava aberto. Os garçons lavavam as calçadas. O jeito foi interpelar um deles e pedir o cardápio, na maior, na maior cara de pau....

Graças ao bom Deus, quem nos recepcionou foi o dono, que loguinho, mesmo sem estar funcionando o expediente, nos mostrou a carta de doces... Sei lá o que ela comeu, acho que algo que sugeri e que descesse rápido: pudim de leite.

Eu tomava café a torto e a direito e perguntava sobre o fotógrafo. Marcia ria e estava zen. A ajudante de Marcia não tava aí, nem aqui - apenas me olhava pra sacar meu jeitão...

Eu falei: "Depois da sessão de fotos vamos comer picanha na pedra aqui!". O dia nem tinha começado e eu já pensava no almoço, mas podem ter certeza absoluta que aquilo ficou na mente de todos a manhã inteira, de tanto que eu falei!

Depois que acabamos com a saga das fotos, voltei a falar no almoço e Marcia foi a primeira a dizer: "Po! To com fome!". Luiz dizia: "Feijão com arroz me satisfaz, até pão com manteiga". A acompanhante de Marcia só falava em quanto seria legal se seus filhos pudessem estar ali - o que me deu dó, pois eu não podia realizar este sonho, só o meu do momento.

Quando todos estavam mais que desidratados, e o cansaço se apoderou de nós, fomos ao restaurante pras comer, descansar e beber algo.

O "Quinta" é como um oásis para mim. Quando minha mãe,  ia ao médico, seu anjo da guarda, quem a salvou em muitos momentos, dizia: "Dona Lola, a senhora é renal crônica... A senhora faz hemodiálise e tem insuficiência cardíaca grave. Sabe que o seu tempo está contado. Cuide de sua dieta...". Ela respondia: "Meu filho, meu Heitor Colírio Castro Junior, se toca! Vou sair daqui e comer a picanha lá do Quinta. Amanhã a máquina limpa tudo...”.
 
A máquina precisava de quatro horas três ou quatro vezes por semana para cuidar dela, justamente pelo fraco coração... E monitorada com aparelhos para uma parada cardíaca a qualquer momento. Ela nunca comeu tão bem quando nessa época... De vez em quando eu dava uma de déspota, mas logo logo rendia-me aos pedidos dela, até mesmo nos sanduíches sem-vergonha, desses que os adolescentes adoram...
 
Com a picanha na pedra de sexta-feira passada todos ficaram muito bem da digestão. Só eu mesma é que quase perdi as tripas. Ti ficando velha... Cheguei a ligar para Márcia, como quem não quer nada, para perguntar do estrago. Ela me disse que não podia falar comigo pois estava comendo rapadura numa festa junina e fazia muito barulho pra batermos papo ao telefone.
 
Benza Deus... Nem a avestruz que vimos no zôo tinha o estômago dela...

Obs: Marcia não pode beber por causa das suas medicações tomadas criteriosamente por anos a fio. Sugeri-lhe parar com as mesmas por uns dois dias para que ela possa tomar o chopp aí da foto... 

Leila Marinho Lage
Rio, 11 de julho de 2010

Clube da Dona Menô
Imagens de Leila M. Lage
 
LEIAM TAMBÉM:

PROJETO NOVO SER