Lua de Mel em Campos do Jordão Olá, turma. Aqui é Dona Menô!
Gente, só agora consegui iniciar os relatos sobre a minha segunda lua de mel com Josualdo. Aliás, deve ser a terceira ou quarta lua de mel...
Jo chegou perto de mim todo envolvente dizendo que queria me dar um presente: um fim de semana em Campos do Jordão, São Paulo. O problema com Josualdo é que ele é muito pão-duro, quer rachar tudo:
- "Eu pago a hospedagem e você paga a gasolina, certo?...".
- "Seu babaca, isso é presente ou excursão turística?".
- "Poxa, Menô! Numa relação a gente tem que dividir tudo!".
Bem, eu deixei passar, porque se eu não pagasse nada, não comeria nada, nem ele. E lá fomos nós, dois cariocas natos, veneradores do mar, sol e de Celsius... a quarenta graus.
Meu companheiro é frágil demais. Acho até que a dama é ele. Sua pele é muito sensível: qualquer frio arrebenta seus lábios e deixa seu rosto todo descascado (e, daí, pinta herpes). Pra piorar, no inverno a artrose ataca e a rinite também.
Carioca não está acostumado com temperaturas baixas. Quando o clima chega a 17 graus, já começa a colocar roupa demais, mas depois se arrepende quando o sol aparece ao meio-dia. Ou, ao contrário, acha que pode usar apenas uma blusa de malha e sofre o dia todo quando o sol não surge... Se o tempo vem violento (o que para nós é por volta de 12 graus), os telejornais começam a divulgar a coisa como se fosse uma calamidade. Os papos nos bares (onde substituem a cerveja por vinho barato ou uma boa caipirinha de cachaça) giram em torno das estações. Todo mundo só fala nisso e geralmente acaba em: "Tomara que o verão chegue logo". Se bem que quando chega aquele verão arretado, muita gente lembra do inverno com saudade...
Em épocas assim, como está agora em agosto de 2010, nosso povo toma duas atitudes: fica em casa, muito puto, procurando saber com a meteorologia quando vai embora a "frente fria", ou se anima para passear em lugares mais gelados ainda, para curtir um friozinho "gostoso"... Foi assim que nós "acabamos" literalmente em Campos do Jordão.
O primeiro entrave foi o que levar de indumentária. Quem não está acostumado a viajar para os polos (porque é assim que sentimos), não acumula casacos, cachecóis e gorros em guarda-roupa, pois mofam, sujam, ocupam espaço. Ao surgir uma oportunidade como este passeio, o jeito é pedir emprestado aquela galocha do amigo que viaja pra Europa todo ano. Mas a gente não tem amigos que viajam para a Europa todo ano... Assim sendo, ferra tudo, porque roupa de frio no Rio de Janeiro é cara pra burro!
Nos primeiros dias a gente até riu do pessoal no Rio, que estava a muitos quilômetros de distância, debaixo de chuva, uma vez que onde nos encontrávamos o sol brilhava de dia e as noites eram piedosas. Até que aconteceu: o tempo virou e o termômetro marcou 2 graus Celsius.
Meu querido namorado começou a mudar também. Estávamos numa estrada nas montanhas, mais exatamente na Serra da Mantiqueira, sendo transportados numa espécie de jardineira, um ônibus em forma de trem, aberto, sem janelas para serem fechadas, o que nos expunha ao vento rascante. Imediatamente Josualdo roubou o meu cachecol de lã, que comprei por 15 reais numa feirinha da região.
Ele tinha me alertado a não usar roupa nova sem terem sido lavadas antes, para eu não me contaminar com ácaros. E desde quando ácaro sobrevive àquele frio?!
Enquanto eu admirava a paisagem e as mansões, Jo cobria o rosto e encolhia as pernas, uma vez que achou desnecessário usar ceroulas por baixo da calça.
Tentei animar o passeio:
- “Olha só, amor! A casa de Sílvio Santos é uma gracinha! A do Felipe Massa devia ter mais cores. A da Torloni é a mais charmosa. Não gostei da janela da Luiza Tomé... Bacana mesmo é a do diretor da Nike. Aliás, o helicóptero acabou de posar... Vê se pode ter uma casa de 6 milhões de dólares e dizer que foi dádiva de Deus! Esse bispo Edir Macedo é muito sortudo mesmo... Papai do Céu só me deu aquele apartamento vagaba lá no subúrbio...”.
Quando eu me virei para ver o que meu amor fazia, uma vez que estava em silêncio, vi uma cena dantesca: um homem com a cara envolta num pano e enfiada entre as pernas. Parecia um tuareg com diarréia.
- “Eu trocava estas casas todas pela minha casa agorinha mesmo!”, disse ele, resmungando.
Ao voltarmos para o hotel, ele correu para o quarto e ligou o aquecedor elétrico de ambientes. Achei estranho, uma vez que ele dizia que esse tipo de aquecimento dava “golpe de ar” – o golpe pior era o frio.
Achei, então, que podia rolar um sexo legal entre nós. Vesti minha melhor camisola e deitei na cama. Saiu do banheiro um Adônis na terceira idade, com óculos escuros, vestido com moletom e um capuz que cobria a cabeça toda. Um verdadeiro ninja de férias nas Bahamas.
Quando ele deitou ao meu lado, cobrindo-se todo com quatro cobertores, eu protestei:
- “Jo, como é que eu vou poder te beijar assim?!”.
- “Ué! Pra transar precisa beijar?”.
- “Eu estou em lua de mel. Quero tudo que tenho direito! Faz favor de ligar o cobertor elétrico e me pegar!”
- “Ta doida, mulher? Prefiro morrer de frio a morrer eletrocutado! Vai que isso dá curto...”.
- “Curta é tua mente!”.
Bem, pessoal, já viram que nada pintou entre nós. Por mais que eu tentasse, aquele encapuzado estava paralisado de medo e de frio. É isso aí... No frio a gente se recolhe, mas tudo encolhe...
Texto e Fotografia de Leila Marinho Lage
20 de agosto de 2010
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