Césio na memória
Uma vítima de Chernobil
Lá estava eu em Goiás, passeando calmamente pelas ruas e notei uma curiosidade: pessoas sem braços ou mãos.
Poderia ter passado despercebido se fosse um único caso, mas quatro no mesmo dia?!
Eu nem me liguei que estava visitando a cidade que sofreu o segundo maior acidente radioativo do mundo, sendo o primeiro em Chernobyl. Só que o acidente, ocorrido em Goiás em 1987, com exposição da população ao Césio 137, tomou vulto por ter ocorrido fora de usinas nucleares, numa proporção gravíssima.
Seriam aquelas pessoas vítimas do acidente? Entretanto, a primeira coisa que me veio à cabeça foi a “Geração Talidomida”.
Devo estar falando “grego” para os jovens que não viveram nesta época, nem assistiram os noticiários que nos aterrorizavam todos os dias.
Desta forma, vou resumir três casos de nossa história:
- Geração Talidomida
- Usina de Chernobil
- Césio 137 - Deixei por último, por achar importante que leiam os tópicos anteriores primeiro
Geração Talidomida
A talidomida apareceu pela primeira vez na Alemanha, em 1 de outubro de 1957. Seu benefício era a ação sedativa e combate aos enjôos das gestantes, tendo sido prescrita a milhares de mulheres em todo o mundo.
A partir de 1959, inicialmente na Alemanha, começaram os relatos sobre o nascimento de crianças com malformação congênita, cujas mães tinham utilizado a talidomida durante a gestação. Essa malformação se apresentava no comprometimento do desenvolvimento dos ossos longos dos membros inferiores e superiores, sendo chamada de focomelia, pela semelhança com as focas. Algumas crianças apareceram com deformidades ainda mais severas, pela ausência total dos membros, denominada amelia.
Foram relatadas deformidades também no coração, rins e olhos, ausência ou desenvolvimento anormal da porção externa do ouvido, fissura palatina ou labial, defeitos do cordão espinhal e defeito no desenvolvimento do trato gastrintestinal.
Foram afetadas entre 10.000 a 15.000 crianças em todo o mundo. O número de abortos espontâneos em conseqüência do uso da droga não é conhecido.
A talidomida foi retirada do mercado em novembro de 1961, pela Chemie Grunental, pela Distillers Biochemicals LTDA em dezembro de 1961 e pela Willian S. Merre Companny em março de 1962.
Nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration(FDA) não liberou a comercialização do medicamento devido às exigências no que tange a comprovação da segurança do fármaco. Por esse motivo, esta agência saiu fortalecida desse episódio passando, a partir de então, a coordenar todas as atividades relativas à política reguladora de medicamentos daquele país.
No Brasil, esse fármaco começou a ser comercializado em 1958.
Os primeiros casos de malformação foram relatados em 1960. Apesar de ser banida dos mercados alemão e inglês em 1961, a talidomida continuou sendo utilizada no Brasil até 1965. O número de vítimas no Brasil, até esse período, permeava a casa dos trezentos.
Estima-se que 40% das vítimas da talidomida morreram no primeiro ano de vida, sendo que hoje são aproximadamente 5.000 sobreviventes.
Em 1965 um dermatologista israelense relatou a administração da talidomida em um paciente com Erythema Nodosum Leprosum, lesões causadas pela hanseníase (lepra).
A princípio, com o intuito de tratar a insônia, acabou obtendo como resposta a melhora do quadro inflamatório da lepra, com cicatrização total das feridas em três dias de terapia. Estudos realizados posteriormente comprovaram a ação antiinflamatória da droga.
Entre 1965 e 1982, já se conhecendo a ação imunomoduladora da talidomida, seu emprego já era aceito nas seguintes enfermidades: eritema nodoso hansênico, prurigo actínico, aftose recidivante, síndrome de Behçet, lúpus eritematoso discóide. A essas indicações, somaram-se outras duas, entre 1988 e 1993: as úlceras dolorosas de mucosas em pacientes HIV infectados e a doença enxerto versus-hospedeiro.
A medicação passou a ser comercializada no Brasil e no México em 1998 para tratamento da hanseníase.
Hoje a liberação para o uso desta droga segue critérios rigorosos, principalmente nas mulheres em fase procriativa.
Chernobil
Fonte de pesquisa : Wikipedia
O acidente nuclear de Chernobil ocorreu dia 26 de abril de1986, sábado, a 1:23:58 am, hora local, na usina Nuclear de Chernobil (originalmente chamada Vladimir Lenin) na Ucrânia (então parte daUnião Soviética. Por falhas no reator 4, até hoje não bem esclarecidas ao mundo, uma explosão provocou uma nuvem deradioatividade, causando várias explosões subseqüentes e um derretimento nuclear, que atingiu a União Soviética, Europa Oriental, Escandinávia e Reino Unido.
Grandes áreas da Ucrânia, Bielorússia (Belarus) e Rússia foram muito contaminadas, resultando na evacuação e reassentamento de aproximadamente 200 mil pessoas. Cerca de 60% de radioatividade caiu em terra na Bielorrússia.
O acidente fez crescer preocupações sobre a segurança da indústria nuclear soviética, diminuindo sua expansão por muitos anos e forçando o governo soviético a ser menos secreto. Os, agora separados, países de Rússia, Ucrânia e Bielorrússia têm suportado um contínuo e substancial custo de descontaminação e cuidados de saúde devidos ao acidente. É difícil dizer com precisão o número de mortos causados pelos eventos de Chernobil, devido às mortes esperadas por câncer, que ainda não ocorreram e são difíceis de atribuir especificamente ao acidente. Um relatório da ONU de 2005 atribuiu 56 mortes até aquela data – 47 trabalhadores acidentados e 9 crianças com câncer de tireóide – e estimou que cerca de 4000 pessoas morrerão de doenças relacionadas ao acidente. O Greenpeace, entre outros, contesta as conclusões do estudo.
O Governo soviético procurou esconder o ocorrido da comunidade mundial, até que a radiação em altos níveis foi detectada em outros países. Segue um trecho do pronunciamento do líder da União Soviética, na época do acidente, Mikhail Gorbachev, quando o governo admitiu a ocorrência:
"Boa tarde, meus camaradas. Todos vocês sabem que houve um inacreditável erro – o acidente na usina nuclear de Chernobil. Ele afetou duramente o povo soviético e chocou a comunidade internacional. Pela primeira vez nós confrontamos a força real da energia nuclear, fora de controle."
Césio 137
O que é Cesio
É um metal alcalino, de coloração ouro prateado. É encontrado em minerais de potássio, tais como micas, berílio, feldspatos, a polucita (alumínio-salicilato de cesio). Os compostos de Césio mais importantes são o hidróxido, carbonato, iodeto e brometo.
O hidróxido de césio é utilzado em pilhas alcalinas; o carbonato se usa em vidros especiais; o iodeto se usa em células foto-elétricas e detectores de infra-vermelho, devido à sua capacidade de ionização quando exposto à luz; o brometo é usado para medir espessuras de filmes de semi condutores.
O relógio atômico utiliza Césio como elemento de medida do tempo.
O acidente
Dia: 13 de setembro de 1987.
Local: centro de Goiânia, nos escombros do extinto Instituto Goiano de Radioterapia.
Dois catadores de metal e papel estavam à procura de uma aparelho de Raio X, de 200Kg, abandonado no lugar, por terem sido informados que no mesmo havia chumbo. Só que neste aparelho havia uma fonte radioativa de Césio 137...
Os homens, ajudados por um carrinho de mão, levaram a peça para suas casas e a desmontaram.
Horas depois, eles apresentaram vômitos, diarréia e queimaduras nos braços e nas mãos, sintomas estes que persistiram nos dias seguintes.
O aparelho, já com peças separadas, foi vendido para um ferro velho no dia 18 de setembro e lá estava a cápsula de Césio. Como ela emitia um azul muito bonito, o homem soltou várias partículas no tamanho de um grão de arroz e distribuiu aos amigos e familiares.
Durante a desmontagem do aparelho, foram expostos ao ambiente 19,26 g de cloreto de césio-137 (CsCl) - pó branco semelhante ao sal de cozinha, no entanto brilha no escuro com uma coloração azul brilhante.
Em 29 de setembro muitas pessoas apresentavam sintomas de tonteiras, náuseas, diarréia, vômitos e queimaduras. A esposa do sucateiro, desconfiada da peça, a levou para a Divisão de Vigilância Sanitária, usando como transporte um ônibus coletivo.
Por estes motivos, centenas de pessoas foram radioacidentadas, fora a contaminação da água e objetos disseminados.
Em outubro de 1987 um dos catadores teve seus braços amputados. Algumas morreram, inclusive a esposa e a filha, Leide da Neves, de seis anos de idade, que dá no nome à entidade que luta pelo apoio às vítimas até hoje: Superintendência Leide das Neves (SULEIDE).
Esta menina foi a primeira a morrer e ingeriu partículas do Césio, enquanto jantava. Ela foi considerada o ser humano mais contaminado por irradiação no mundo.
Além das vítimas acidentais, muitos profissionais, que se empenharam no socorro aos doentes e no trabalho de descontaminação, morreram ou tiveram a saúde severamente afetada até hoje.
Foram 19.26g de cloreto de césio, mas o suficiente para milhares de pessoas ficarem interna ou externamente contaminadas.
O monitoramento 112 mil pessoas foi realizado em um estádio de futebol. Destas, mil foram externamente irradiadas, com exposição acima da radiação natural. O número de pessoas que apresentaram contaminação interna e/ou externa foi igual a 249. Deste total, 49 pessoas foram internadas e 21 exigiram atendimento médico intensivo, 10 apresentaram estado grave com complicação, 1 pessoa teve seu braço amputado e 4 foram a óbito: duas por hemorragia e duas por infecções (MIRANDA, 1993).
Os trabalhos de descontaminação dos locais afetados produziram 13,4 t de lixo contaminado com césio-137 e está enterrado em cerca de 1.200 caixas, 2.900 tambores e 14 conteiners, num depósito construído na cidade de Abadia de Goiás, vizinha a Goiânia, onde deverá permanecer, pelo menos,180 anos.
Os efeitos da radiocontaminação pode se dar agudamente ou cronicamente, tais como:
- Problemas gastrintestinais
- Queimaduras
- Leucopenia, anemia aplástica, - destruição das células sangüíneas
- Hemorragia - destruição de plaquetas
- Infecções
- Deficiência imunológica
- Doenças articulares e ósseas
- Inflamação dos vasos (vasulites) e comprometimento do tecido linfático, levando a necrose dos tecidos e dificuldade de cicatrização, o que leva a e a amputações.
- Doenças genéticas, que podem até comprometer as gerações futuras
- Malformações congênitas
Como estarão estas pessoas? Estão sendo bem assistidas? Qual o exemplo que o Brasil dá, depois de um acidente como esse?
Leila Marinho Lage
Rio, 07 de abril de 2007
http://www.clubedadonameno.com
Leituras indicadas:
Matérias
http://www2.correioweb.com.br/cw/2001-12-11/cab_103399.htm
http://www.anovademocracia.com.br/1807.htm
http://www.cidadesdobrasil.com.br/cgicn/news.cgi?cl=099105100097100101098114&arecod=17&newcod=713 http://clipping.planejamento.gov.br/Noticias.asp?NOTCod=209373
Filme indicado e texto
http://www.radiobras.gov.br/ct/2002/materia_140602_9.htm
Pesquisa
http://pt.wikipedia.org/wiki/Acidente_radioativo_de_Goiânia http://www.infojus.com.br/novidades/cesio_137_sentenca.htm
http://ef.amazonia.org.br/index.cfm?fuseaction=guiaDetalhes&id=130007&tipo=7&cat_id=157&subcat_id=551 http://www.espacovital.com.br/asmaisnovas05102004c.htm
Suleidehttp://www.saude.go.gov.br/index.php?idMateria=17253
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