Clube da Dona Menô
Dona Menô
SUPERANDO OS OLHARES



Uma das coisas que mais adoro na vida é unir pessoas que eu gosto. É o maior barato quando a gente consegue fazer com que pessoas que admiramos fiquem amigas entre si. É como se a gente tivesse guardado peças incompletas de um brinquedo desmontado, e um dia a pecinha que faltava veio a completar a brincadeira.

Eu andei doentinha e deixei minha amiga Márcia na mão. Ela precisava de mim para fazer um monte de coisa no seu computador, mas eu estava muito mal e não conseguia sair da cama. Nem votar eu pude...

Aí ela lembrou de Enoque, o meu técnico em computação - aliás, ele não é só técnico, se bem que a gente acaba chamando assim. Márcia impunha: “Chama seu amigo Enoque aqui! Eu não posso parar! Tenho que divulgar meu livro!”.

Meu Deus, Márcia, apesar de não se locomover, tem uma dinâmica mil vezes maior que a minha... O jeito era mandar Enoque ir lá rapindo, e assim ele fez.

Eu acabei me preocupando com aquele encontro, uma vez que Márcia tem necessidades especiais. Será que Enoque ia chegar junto? Bem, o jeito foi levantar da cama e me encontrar com os dois lá na casa de Márcia.

Eu só sei que fiquei sobrando. Os dois se entenderam muito bem, ao ponto de me ignorarem completamente... Enoque falava baixinho, todo calminho e Márcia estava atenta, esperta. Quando eu via o que ele ia fazer de errado para ela, tentava me intrometer e perguntava: “Posso falar?”. Eles olhavam para mim distraídos e continuavam os dois na maior concentração.

Ainda tentei dar um tempo, nervosa, irritada de tanta calma dos dois. Insistia: “Eu posso falar?!”. E nada! Eles nem olhavam mais para mim... Depois de algumas horas e depois de eu ter feito a maior zona na casa de Márcia, enfim ela me olhou e disse (escondendo seu risinho cretino): “Fala, mas fala baixo...”.

Eu ainda tentei fotografar os dois com os olhos abertos, mas parecia que enquanto um abria os olhos, o outro fechava os seus. Tentei várias vezes e não consegui. Achei até meio estranho, mas tanta coisa estranha acontece nessa amizade que eu tenho com Márcia, que nada me assusta mais...

Leiam os demais textos sobre Márcia Garcês, no Espaço Cultural (em ordem alfabética).

Leila Marinho Lage
Clube da Dona Menô
Rio, 21 de outubro de 2010