Rio Antigo - A feira Esta minha amiga Eliana Rocha é “felomenal”... Como ela estuda história, deixei na sua incumbência roer o osso duro, ou seja: escrever sobre a história do Rio de Janeiro, principalmente do Centro da Cidade e a feira do Rio Antigo, que acontece todo primeiro sábado de cada mês. Ela é que entende de Centro da Cidade – sabe todas as ruas, os monumentos, aonde vende isso ou aquilo, os melhores bares e restaurantes, a boemia. De Centro da Cidade, então, eu tenho (tinha) a maior ojeriza: multidões nas ruas, aquele cheiro de mijo no ar, assaltos, trombadinhas, corre-corre, aquele calor infernal, gente suada passando o sovaco na minha cabeça (sou baixinha). Fora que de Centro da Cidade eu só conheço onde é a Santa Casa, Beneficência Espanhola e Portuguesa; que é caminho para a Clínica Peri-Natal, Casa de Saúde São José, etc, etc, etc... Eliana e eu, de certa forma, nos complementamos. Não que eu seja diferente dela. Aí é que está o barato da coisa: eu e ela nos adaptamos às situações. Não existe aquela quietinha, aquela rabugenta, nada. Apenas nos entendemos. Não existe na nossa amizade nenhuma competição, disputa de egos, nada - só companheirismo e empatia. Somos pessoas simples, sem frescura. Já passamos um bocado por esta vida para nos dar ao luxo de passearmos por aí falando bobagens, rindo, vendo a vida em outros ângulos. Eu adoro andar, mas, naquele dia, estava de salto alto e ele me mandava correr, atravessar ruas, entrar em becos escuros, sempre procurando alguma coisa. Durante o dia é maravilhoso. A segurança existe, apesar de eu não ter observado muitos guardas. Talvez, pelo menos na área da feira, a segurança esteja à paisana, observando os turistas, moradores e comerciantes. Percebi que os menores de rua e os mendigos somem para as ruas adjacentes ao movimento, entre as estátuas e monumentos. Quem passa na Rua do Lavradio, na Cinelândia, nos arcos da Lapa (antiga construção que era o aqueduto da cidade) não verá tanta violência ou prostituição, como se via até bem poucos anos, nem de noite.
O Rio de Janeiro descobriu que o turismo depende de segurança e que a renda que se perde por causa da miséria só trará mais miséria a esta Cidade. Infelizmente, as crianças abandonadas ao destino das ruas e os pobres alcoolizados, que dormem no chão, voltam a popular estes lugares depois que os visitantes se vão, e a maioria fecha os olhos para isto. Voltemos ao dia do nosso passeio. Sim, Eliana é comodista, odeia andar. Ela tem que parar, observar, viajar mentalmente. É a nossa grande diferença: ela é zen e eu, elétrica. Ela acha que tem tempo pra tudo e eu acho que tudo tem que ter sido feito ontem. Ela me faz perder muito tempo... Mas, certamente, está me ensinando a tirar proveito de momentos, como foi o caso do almoço que tivemos. Dizendo assim, até parece que Aires é nosso amigo antigo... Conhecemos naquele momento, conversando com a amiga de Eliana, a baixinha... Eu não sei se Aires é alto – só sei que Conceição é baixa... Como sou baixa também, qualquer um é alto. Mas, realmente verifiquei que ele se baixava demais pra me perguntar porque eu não escolhia um prato mais elaborado para comer, afinal, quem sai pra almoçar, quer comer algo diferente. Falei que o diferente, para quem está comendo alface e rúcula todo dia, é BATATA FRITA E BIFE! Eliana acertou no que disse. Eu queria ir para fotografar, não para comprar. Não adiantaria mesmo! Tudo me dava sonho de consumo: as máscaras, os móveis marchetados, os utensílios de décadas anteriores, os objetos de navio, rádios antigos, pratos de parede, vasos de Murano, bem estilo dos anos 50 e 60 – tudo exposto na rua fora das muitas lojas e em barraquinhas de ambulantes. Mas, que me deixou louca mesmo foi um espelho veneziano. Tenho um, mas colocaria um em cada canto da casa, até no banheiro. Adoro decoração. O meu problema é não ter “espaço” – espaço no bolso pra guardar grana pra isso... Fiquei direcionada a comprar uns óculos pra Dona Menô, ex- hippie, agora na menopausa, a personagem do meu site. Pensando bem, esta figura tem muito da Eliana Rocha – irreverente, despachada, corajosa, sem papas na língua, alegre, e, ao mesmo tempo, com maturidade e muito juízo na cabeça. Três coisas ficaram marcadas neste passeio e vou deixar para os próximos capítulos: os artistas, os arredores da feira e os monumentos. Aí, vocês me perguntam: Como eu conheci esta figura rara?.
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