DOCES TORTURAS
Havia sete meses que eu não via Márcia pessoalmente. Exatamente no Ano-Novo, quando eu dei um faniquito e acabei com nosso passeio em Búzios. O que me fez fazer isto não tem muita importância, porque o importante é que até este momento estivemos juntas quase todos os dias, mesmo ao telefone. Só que no último domingo não deu pra protelar nosso reencontro. Eu tive que largar minhas coisas e passar um dia (maravilhoso) ao lado dela, trabalhando em seu computador, que nem um autômato.
A gente precisava avisar sobre o lançamento do seu livro. Márcia está perdendo a força em sua mão, a única que funciona. Ela estava sem empregada, pois não pode pagar todos os dias para que alguém a coloque numa cadeira de rodas.
Eu fico revoltada porque não tenho força física de levantá-la. O jeito foi fazer tudo que ela precisava fazer no seu computador, massagear seus pés e comer muito, pois a sua mãe faz coisas maravilhosas!
Ninguém imagina quantas pessoas passam por coisas que não precisavam passar! Márcia Garcês precisa de Home Care, com fisioterapia de tudo quanto é jeito e cuidados básicos. Ela está tentando este recurso através de seu plano de saúde. Espero que consiga...
Ela comeu comida muito quente e bebeu refrigerante muito gelado. Fiz tudo errado com ela. Tentei colocar o laptop em cima de seu corpo e apertar seu dedo no teclado, mas não ficou nada confortável. Ela ria muito!
Ao anoitecer, quando eu me preparava para ir embora, deu uma vontade enorme de continuar lá, porque a gente estava feliz, muito feliz mesmo. Perdi um dia inteiro de trabalho e deixei de resolver tantas coisas para mim, mas eu tenho certeza absoluta de que o último domingo, nas vésperas da publicação de seu livro, vai ficar marcado para o resto de nossas vidas.
Dentro de alguns dias ela estará linda, maquiada e cheirosa, diante de empresários, escritores, artistas e políticos, lançando o “Diário de Márcia Garcês”. Só que ninguém sabe o quanto ela precisa ser careta pra aparecer assim, pois, na verdade, ela precisa gritar e reclamar por tudo que falta em sua vida: as coisas das quais tem direito e merece.
Adorei o sanduíche de mortadela com foie gras... Aquilo foi o máximo, Dona Ruth! Luiz Martins perdeu...
Leila Marinho Lage
Rio, 11 de julho de 2011
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