A minha melhor terapia
Etimologicamente a palavra “terapia” vem do grego e significa, basicamente, “tratamento”. Semanticamente “therapeía” nos traz a cura ou um passo para a mesma. Exatamente o que eu tento fazer na minha vida de médica, uma resistente defensora da saúde da população. Eu procurei me tratar das consequências de tudo de ruim que me aconteceu. Curei-me de algumas coisas, mas de outras, não... Somos todos muito pouco autocríticos, uma vez que somos condescendentes com nossos erros e carências. Todos nós somos péssimos “médicos” de nossas condutas e sentimentos, ao contrário de como agimos com os demais ao nosso redor, uma vez que temos uma observação muito mais objetiva dos atos alheios. Por isto, eu fico atenta quanto ao que dizem sobre mim, mas, ao mesmo tempo, eu relevo certos comentários, pois poucos sabem como realmente curar suas próprias fraquezas.
Tanta filosofia apenas para falar que eu sou extremamente apaixonada pelo que faço – não a medicina, mas a fotografia. Eu acabei por achar que tudo que vejo, tudo que conheço e tudo que realizo deve ser registrado em fotos (não em filmagens, mas em fotografias). Nem ligo pra meu retrato, porque até nem gosto, em oposto ao prazer de perceber como pode uma cena minha ficar bem num trabalho audiovisual.
Desde que me conheço por gente eu me envolvi com imagens, nem que fossem naqueles caderninhos de redação ilustrada, onde minha mãe fazia a "cola" pra mim e desenhava pra me ajudar no dever de casa (e ela desenhava muitíssimo bem).
O segundo contato com a arte visual foi com os calendários da Swissair. Ao longo de muitos anos meu pai trazia aqueles calendários de parede, que passavam mês a mês cenas maravilhosas. Pra mim nem era importante a paisagem em si, mas como foi fotografada! Até que um dia ele me trouxe uma coletânea com fotógrafos campeões- não sei se da Fuji, não sei se da Yashika, não lembro. Eram fotografias maravilhosas e tenho todas elas registradas em meu cérebro.
Eu era bem menina. Guardei até bem pouco tempo as folhas daquele álbum, as que não apodreceram. Se bobear, lá no último buraco do meu armário, devo ainda conseguir muitas folhinhas enroladas e presas em elástico...
Eu jamais pensei que hoje eu estaria, da mesma forma, catando e guardando imagens perfeitas. Não tenho a técnica e conhecimento dos grandes fotógrafos, mas consigo ver, através e além de lentes, o mundo que me traz o belo, mesmo inconsciente, mesmo primário. A fotografia me faz bem, ela me acalma, ela é a razão do meu bem-estar. Se não fosse a fotografia, meus dias seriam menos coloridos.
Estou sempre querendo mostrar a quem queira ver, aquilo que eu CAPTO COMO IMPORTANTE E ETERNO. Pena que eu não possa me dedicar mais profundamente à fotografia...
Leila Marinho Lage
Rio de Janeiro, agosto de 2011
|