Rio Babilônia - Do Versulivre ao Pa-Tro-Pi
No século passado.... Engraçado... Para minha geração, século passado se refere ao século XIX. Século passado lembra carroça, escravidão, imperador, aqueles vestidos rodados até o chão e minueto... Só que o século XX já passou e, portanto, há alguns anos atrás era século passado, certo?
No século passado, por volta de 1998, por aí, eu era tiete de uma banda de rock chamada Versulivre. Eu era casada e alguns componentes do grupo eram sobrinhos do ex-marido. Eu me apaixonei perdidamente por esta banda. Os caras tocavam e cantavam horrores. Maurício Galliett, atual ex-sobrinho, era baixista, cantor e o compositor da maioria das músicas deles.
Quando eu comecei a me enturmar com os rapazes, passei a incorporar a Dona Menô que vivia latente em mim e os acompanhava nas apresentações, bolava shows, entrevistas, e até fizemos, ou tentamos fazer, um clip musical.
Era hilário, gente: filmadora rudimentar, sem nenhum preparo técnico, e tudo saía do bolso da gente. Saiu uma porcaria - aliás, nem saiu. Tenho as fitas de vídeo comigo. O que se aproveita, fora memórias de bons tempos, são as gafes, as brincadeiras, as palhaçadas. Um passado registrado em quilométricas fitas que um dia poderão mofar por desuso, se eu não reagravar as filmagens em um CD.
O grupo acabou e eu perdi contato com todos. Todos também perderam contato entre si, o que é lastimável. Eles casaram, seguiram suas profissões, vivem suas vidas.
Há um mês Maurício me descobriu e ligou para me convidar a assistir à primeira apresentação da banda Rio Babilônia aberta ao público, pois apenas faziam shows particulares para empresas e em eventos.
- “Maurício, quer dizer que eu vou ouvir de novo você cantar “Estação", "Johnny, o bravo" e "Sempre volto aqui"?!”.
- “Não, Leila. Somos uma banda cover”.
Banda cover me pareceu algo semelhante a coisa ordinária - aqueles conjuntinhos sem graça que imitam artistas. Mas, conhecendo o potencial artístico de Maurício e sabendo de sua capacidade como empresário, supus que, no mínimo, eu ia assistir uma mega show. E foi.
O reencontro na porta de minha casa me lembrou as dezenas de vezes quando ele me pegava de carro, todo arrumadinho, com a roupa do show. Ele me beijou, sentei ao seu lado no banco da frente (no banco de trás, a sua família, espremida e sorridente) e comecei a dar uma de correspondente do Clube da Dona Menô:
- “Por que o nome Rio Babilônia? Como são? Quer dizer que você não resistiu e colocou sua estrela de novo no palco, né?”.
Maurício viajava no passado e lembrou de coisas que até eu tinha esquecido, como o dia em que fomos a uma loja bacana para comprar uma roupa para algum show. Ele lembrou dos lanches que eu levava para os ensaios do tal clip – era lanche, pó compacto, (que hoje deve ter nomes americanizados), lenço de papel, fios... E eram sonhos, muitos sonhos carregados nas frasqueiras de nossa juventude. Até que ele resolveu dar uma de entrevistado e abriu o verbo:
- “O nome Rio Babilônia foi um acaso (Como sempre, o acaso. Da mesma forma que Versulivre). Lembra do filme Rio Babilônia, de Neville de Almeida, famoso em 82, e da música com o mesmo nome, de Jorge Benjor? Pois, é... Foi daí.. E pegou, porque o nome está subliminarmente na cabeça das pessoas. O grupo é formado por várias pessoas: metais, baixo, guitarra, teclado, bateria, pandeiro, dançarinos.. E cantamos tudo ao vivo, no gogó!”.
- “Dançarinos?! Essa eu quero ver...”.
Eu não vi – eu dancei com eles. Dancei, sim. Confesso que dancei... Dancei “Whisky a Gogo", "ILARI, ILARI, Ê, Ô, Ô, Ô". Dancei, inclusive, música do Flamengo. Eu devia estar de porre, não é possível... Também pudera, eu e Eliana Rocha, minha amiga de todas as horas, tomamos todos os drinks coloridos do Hard Rock Café. Era colorido, tava bom – quanto mais cor, melhor, não importando muito o que havia dentro. E até não havia muita coisa dentro mesmo, porque acabava rápido.
Ih! Eu esqueci de que a apresentação foi no Hard Rock Café. Existe esta casa em quase todo lugar do mundo e aqui existe há um tempão, mas eu nunca tive o menor saco de entrar. Lugar lindo, limpo, sanduíches enormes, espaçoso, boa acústica, muitos quadros de artistas do rock, os tradicionais objetos pendurados nas paredes.
Momento cultural
O Hard Rock Café foi fundado em 1971, na Inglaterra, pelos jovens Isaac Tigrett e Peter Morton. Nesta época, Eric Clapton deu de presente aos donos uma guitarra, que foi pendurada na parede. Peter Townshend, do The Who, enciumado, mandou entregar a sua guitarra, junto com um bilhete: “Mine’s better!”. Hoje a característica principal da casa é a coleção de milhares de objetos e vestuário de artistas. A partir de 1982 foi implantada esta filosofia do Café do Rock nos EUA e, posteriormente, se espalhou para os pincipais países da Europa e, então, para mais de 30 países espalhados no mundo. Pelo que pesquisei, há Hard Rock até em Beirute, Mumbai, Taiwan, Nassau, Romênia e, imaginem, em Kuala Lumpur! Meu Deus, em Kuala Lumpur!
Em 1990 a empresa foi comprada pela Rank Group e hoje a Hard Rock Café é uma marca milionária, que lucra desde bottons e camisetas até hotéis e cassinos.
Mas, poxa... até em Kuala Lumpur?... É demais!
Voltando aos meninos
Quando eu entrei no Hard Rock Café a primeira impressão foi de que eu estava em casa. Afinal, o espaço era ocupado, em maioria, pelo público que foi prestigiar a banda, mas muitos fregueses do local entraram literalmente na dança. Assim que se apresentaram, entrou um cantor dançarino maravilhoso, ao som de Santana e, daí pra frente, eu ouvi a história do Rock passar pelos acordes dos excelentes artistas da banda. Os metais foram perfeitos e se comunicavam com o teclado, o baixo e a guitarra como se dialogassem. Os cantores estavam super afinados e de uma alegria que dava até vontade (e aconteceu) de pular e dançar que nem criança.
To falando... Eu dancei até Xuxa!... Do jeito que eu estava exausta de tanto ter trabalho durante a semana, em plena véspera de feriado (14 de novembro), só mesmo um Rio Babilônia pra me fazer sair da cadeira.
Aproveitei para duelar com o fotógrafo, que na verdade é professor de informática, Wagner. Tadinha de mim... Ele com uma supermáquina fotográfica e olhos que enxergam no escuro, eu com minha merrequinha, sem experiência na coisa e teimando em não mudar a lente dos meus óculos... Acontece que eu me realizei quando Walter disse: “Minha bateria acabou!”. Aí eu fui pra galera! Posso não saber fotografar, posso não entender de fotografia, mas a minha bateria dura mais que a dele!
Percebi que estava dando pouca atenção a Eliana e fui à sua procura. Para variar, ela estava num cantinho, escrevendo em meio àquele som alto. Eu não entendo como um ser humano consegue chegar ao Nirvana nas situações mais exóticas. Eu quero saber o que tanto Eliana escrevia naquele caderninho!
A inspiração de Eliana foi interrompida pela música do Benjor (na época, Jorge Ben): “Moro Num Pa Tro Pi, Abençá Por Dê e Boni por Naturê. Ma, que Belê! Em Feverê Tem Carná, Tenho um fusca e um violão. Sou Flamengo e tenho uma nega chamada Tereza”. Lá estava Eliana pulando que nem uma macaca, junto a mim, outra macaca.
Hoje, neste instante, não posso me reconhecer naquela que fui ontem. Não me imagino hoje pulando num lugar daquele tamanho, em volta de dançarinos e de tanto jovem, tentando aprender alguns passos de funk... Como também não imaginava que eu pudesse ver (Senhores, eu vi!) Mauricio Galliett, meu sobrinho, e sua banda dançando com peruca, plumas, óculos escuros e cantando Robocop Gay, dos Mamonas Assassinas, e as músicas do Village People, mas estavam mais para os Dzi Croquetes...
Foi muito bom. A gente soltou a franga. Para lembrar os velhos tempos, levei um bolinho na bolsa para o lanchinho do meu sobrinho. E foi justamente a única coisa que ele comeu. Não foi um bolinho qualquer: foi um bolinho de Mar del PLATA, que me foi dado de presente por uma cliente! Aí eu vi que muita coisa a gente ainda guarda daquela época, e uma delas é a nossa parte infantil.
Ainda não sei o nome dos integrantes da banda e os que foram a mim apresentados. O Blue Curaçau com abacaxi me fez esquecer seus nomes. Eu vou passar para vocês a página deles na Net em breve. Também penso em substituir as fotos deste texto pelas fotos de Wagner, quando ele conseguir carregar a tal bateria. Não sei quando... Mas, eu sei onde é Kuala Lumpur!
Leila Marinho Lage
Rio, que continua lindo, 15 de novembro de 2007
Passo abaixo o restante das terríveis fotos e uma resposta a este texto, enviada por Carlos, meu amigo-irmão, fotógrafo profissional:
Bom dia Leila
Pelo jeito a farra foi mais que boa .... Estou adorando acompanhar suas noitadas. Pena que fica difícil estar presente .
NÃAAOOOO SUBSTITUA AS FOTOS! As fotos tiradas por você ou de você naquele segundo não são só imagens - elas mostram aquele momento Máximo da sua alegria. Elas não são só fotos - são momentos alegres da sua vida que você congela, e ninguém mais os tira de você .... Assim, quando escreve sobre eles e mostra estas fotos, você não só revive aquele momento, como, também, coloca sentimento na maneira como conta.
Bjs
Carlos
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