Tô cum saudadocê
(Leila Marinho Lage)

Dizem que saudade só tem na nossa língua
Saudade chorada, saudade cantada
Nas lembrança deixada na estrada
Na lida que nos deixa à míngua
Escondida, abafada, pra não dar dó
Que nem cachaça amarga
Que se bebe de um gole só

A saudade é curtida no sereno
Arrebanhada que nem gado
Cruza a eternidade
Sem apeá do cavalo

E escrita na prosa e no verso dos letrado
Mas nós matuto tem cantiga de viola
Pra mó da saudade i’mbora
Quando embora foi nosso lugar e nossa amada

Minha véia Deus já levô
Meu menino nesse mundão se aventurô
Sobra eu enrolando meu fumo
Que essa saudade não me dá rumo

Mas de toda dor
A saudade mais doída
Não é chorar de amor
Nem pela terra querida
É as cantiga de niná
que foi pra não vortá
Pro filho morto, o filho doente e o que não vingo

A gente perde um amor, um filho, uma amizade
O coração abre uma ferida
Que a gente chora pra toda a vida
Vive inteiro pela metade

Êta sentimento danado
Isso até parece fado...

Se fado vem de mouro
De marinheiro, africano ou baiano
Patrício, conterrâneo
Tanto faz
Saudade bota tudo escravo

Rico ou pobre, que não vê sapato de couro
Roceiro ou seu doutô
É igualzinho fado e nossa musica do interiô
Fado é tristeza, lamento e saudade
Português cantô muito aqui
Lembrando da roça e querendo ir

Agora é brasileiro que passa essa maldade
Canta pela terra natal
Fazendo o mesmo lá em Portugal
Mas se gringo tem coração e tudo é igual
Então saudade é universal

Vou tirá a palha da orelha e fumá
E olha aqui seu francês
Não adianta imitá
Saudade fala português
E só nóis sabi falá

Vejam o pps To cum saudadocê
http://www.clubedadonameno.com/slides/mostra_slides.asp?id=111