Uma vez escrevi algo sobre o amor: Amor puro e puro amor. E continuo dizendo que no amor existem cobranças o tempo todo. Talvez nem seja amor, mas o que mais se aproxima de afeto é logo taxado de amor.
O "afeto" pode se transformar em ódio, rancor, revolta e tantos outros sentimentos malignos, mas começou como amor.
Dificilmente alguém ama de graça, sem nada cobrar, sem nada exigir, sem ter o troco. Nem que seja atenção, a pessoa que ama está constantemente desejando algo em troca. Desejar algo até dá, mas exigir retorno já muda de figura tudo aquilo que se entende por amor.
Amor só exige quando ele não é amor puro, no entanto é puro amor.
Amor mais ou menos não é amor. É teatro do amor. A maioria das pessoas que conheço ama mais ou menos. Não sei se por defesa ou por completa incapacidade de amar.
Não se deve exigir aquilo que alguém não tem condição de oferecer - ou se ama igual, ou não se ama.
Amor precisa ser compartilhado para se haver simbiose e alcançarmos a felicidade. Amar sozinho só traz amargura, mas não chega a ser tão nocivo quanto odiar sozinho.
Ninguém quer ser só no amor. Amar sozinho é deprimente. A pessoa de tanto amar se odeia e odeia o outro que causou tanta frustração.
Se um dia soubermos para que serve este nosso dom de amar, tão específico da raça humana; no dia que soubermos definir amor de outros sentimentos; no dia que não mandarmos no amor e apenas amarmos, talvez aprendamos a nos amar também.
Eu amei, eu amo e sempre amarei. Amo pessoas, não limito meu coração de amar. Também "odeio" e sei que muito de meu ódio é amor ao inverso, que finge para não perder a pose.
Acho que sou incapaz de odiar de verdade, pois a cada instante de ódio eu sofro, eu remôo coisas, eu sucumbo. Por isso, prefiro ignorar, prefiro ME ignorar e desenvolvo todos os dias meus caminhos para o amor.
Amar de graça me faz bem. Não ter motivos para amar me faz entender Deus. Amar uma criança, uma menina que vira mulher, amar amigos, amar um homem, amar uma mulher, amar família - aquela que o destino me deu e aquela que construí na minha vida.
Pena que eu não consiga dizer EU TE AMO todas as vezes, por fraqueza, por mágoa, por coisas terrenas.
Espero poder morrer dizendo esta frase às pessoas para as quais neguei meu amor. Pode ser que eu precise sofrer mais. Pode ser que eu precise tirar a roupa que enfeita meu orgulho.
Para aquelas pessoas que sabem do meu amor e comigo compartilham este sentimento, para as que um dia saberão, e para o meu amor maior, eu deixo aqui a crônica que me levou a tantos devaneios.
Leila Marinho Lage
Rio, 10 de dezembro de 2007
www.clubedadonameno.com GENTE COM AMOR DESASTRADO
Artur da Távola O ser que nos causa danos, num certo sentido, é alguém que sofre o mal que nos faz. Escolhe-nos mais por desespero e espera de compreensão, do que por maldade. Mas se nos encontra igualmente carentes e sem condições de percebê-lo em sua necessidade, revolta-se ainda mais, ferindo de forma aguda e intensa, por causa dessa frustração. Tal mecanismo não é percebido pelo agressor. Domina-o e ilude-o. Fornece-lhe argumentos e razões aparentemente lógicas para justificar seus sentimentos e impulsos agressivos.
O que existe em mim que estimula a agressão do meu desafeto? - devemos perguntar-nos sempre. Talvez a resposta seja: uma parte muito parecida com a dele. Uma espécie de espelho no qual, ao olhar, ele nos vê para não se ver. E para não se detestar, detesta-nos. Mas aquela parte é nossa também. Nós a temos. A vida está cheia de amor desastrado. Exigente, possessivo, aprisionador. Amor que não libera, que prende, cobra, reclama, pede, suga, ofende, machuca, obriga. Um amor que se utiliza do ódio como mecanismo de sua manutenção ou exigência. É assim mas é amor, uma forma desastrada de amor. E ódio também. E raiva. Quem conhecer o próprio impulso de ódio poderá talvez aplacá-lo, ou diminuir o seu efeito destrutivo. Quem controlar o próprio impulso de ódio talvez aproveite a energia que lateja dentro (como nas forças da natureza), canalizando-a para obras e ações criadoras e positivas. Quem dirigir o próprio impulso de ódio, talvez despeje a força dele em atividade artística ou empresarial, desviando-a do objeto amado passível de ser destruído. |