Quenianos mais que vencedores
Eu sei o que é isso...
O queniano Robert Cheruiyot, corredor vencedor da 83ª corrida internacional da São Silvestre, ontem à tarde, teve que disputar, mesmo sem saber o que acontecia com sua família em seu país, com este escândalo da votação à presidência, quando Mwi Kibaki tomou posse.
Uma batalha civil - violência, queimados no meio das ruas, protestos. E Cheruiyot aqui, correndo à frente de outros atletas.
Imagino que se ele estivesse feliz, a sua vitória seria mais arrasadora. Talvez nem ganhasse... Adrenalina, tristeza, preocupação em meio à obrigação como desportista. Ele não foi vencedor por ter chegado em primeiro lugar. Ele venceu antes disso, quando se dispôs a participar da prova e "esquecer" que existe gente que ele ama e que poderia estar morta ou sofrendo.
O mesmo ocorreu com a vencedora queniana Alice Timbilili. Pela primeira vez na história da São Silvestre os dois campões quase chegam ao mesmo tempo. O olhar deles me deixou a impressão de que eles têm muito mais do que força física. Eles são representantes da resistência deste povo que ainda é oprimido e injustiçado. Eles não lutaram pela vitória, mas pelo seu país.
O beijo dado no solo brasileiro pelo queniano foi uma honra, principalmente vindo de um herói dos novos tempos.
Leila Marinho Lage
Rio, 1 de janeiro de 2007
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