Clube da Dona Menô
Dona Menô

Não posso dizer que sou católica

Não posso dizer que sou católica. Não sigo todos os mandamentos, principalmente os que têm a ver com a fraqueza da carne...

Não. Isto não é um texto engraçado... Não quero fazer um texto engraçado hoje. É que na ironia eu falo coisas para gente que sente profundamente e vai entender além das palavras. É assim que quero escrever agora.

Eu nem ia escrever nada. Estou numa fase de falta de inspiração. Nada sai no tempo e à hora. Acho que é o meu trabalho desgastante e preciso de férias – o que pretendo fazer em breve.

Acabei de conversar com uma convidada que escreve no site, Gisa. Ela lá na Suécia, naquele frio de Dante, feliz da vida, trabalhando que nem louca, e disse que vai ficar um pouco longe de mim e da escrita.

Nós aproveitamos para falar sobre nossa semana, do jeito que se pode conversar num computador. Só que conosco até num computador passamos coisas que as outras pessoas não entendem, inclusive uma profunda espiritualidade e paranormalidade.

Pelo que leram nos últimos dias, eu não ando muito animada, nem com um bom humor (mesmo sem saberem a razão). Por isso, eu não dava conta de que dia era hoje. Foi daí que a coisa começou.

Gisa me perguntou se eu estava bem. Eu disse que não, se fosse comparar com o que eu acho sobre estar bem. Ela me disse (já que é toda esotérica) que isso só melhora na segunda semana de Janeiro (sei lá por quê...).

Eu disse que ia me afastar do pc para resolver outras coisas, tomar um banho, acender um incenso, sentar na minha cama para olhar para a caixinha de música de Nossa Senhora de Fátima e pensar em minha mãe.

Não me perguntem por que eu disse isso, pois não sou assim. Deu na veneta dizer que eu estava com uma imensa vontade de fazer tal coisa - como acabei fazendo.

Gisa disse que seria bom, porque hoje é dia DELA. Esta amiga tinha acabado de me enviar algo pelo e-mail, que ainda nem vi, sobre esta santa.

Eu associo Fátima ao mês que o antigo Papa revelou o “terceiro segredo” que estava guardado (junho de 2000). Não pelo Papa ou pelo “segredo”, mas foi o dia que meu pai morreu - ou um dia antes, sei lá... Pouco antes tinha morrido minha amiga Tânia, a qual foi a responsável pelo texto “Mulher madura – Matur-Idade”, que está em destaque na página inicial do site, do qual recomendo a leitura e tem muito a ver com o que eu escrevo hoje.

Eu me arrepiei em saber que dia era hoje e, aí, aumentou a vontade de “tocar” a santa. Entendi que minha mãe estava falando através deste meu gesto. Por intermédio de Gisa, lá no fim do mundo, eu pude explicar o motivo.

Existem duas santas que admiro: N. S. Aparecida e N. S. de Fátima. Coincidência ou não, são as Santas do Brasil e Portugal. Mas não posso dizer que sou católica... 

Nem ao menos posso dizer que goste de religiões. Não sou ligada em igrejas, missas, cerimoniais, padres, pastores e nada que represente o que não há como representar, entretanto eu acho que tenho uma sincera crença em Deus. Acho que sou até mais “religiosa” que muita gente que frequenta templos de qualquer religião ou crença. E adoro ter contato com gente que “entende” das coisas; adoro conversar com gente de todas as religiões; saber que acreditam, que sentem a palavra Divina, seja lá como fazem. Tanto faz os meios, o que interessa é a finalidade, que é o amor, a caridade, o respeito e a procura pela força maior - aquilo que está no Universo, na natureza e entre os seres vivos.

Aprendi “religiosidade” com minha mãe. Ela não tinha tempo de levar os filhos em igrejas, apesar de ser católica e sempre rezar (ao seu modo). Em casa ela me ensinava (e muito!) as coisas e dizia que os filhos deviam estudar e aprender sozinhos para descobrirem suas crenças, sem interferência dos pais.

Eu mesma aprendi numa bíblia infantil, feita em tecido emborrachado, com imagens que até hoje ficaram na minha memória, como todas as frases que li. Ela aparecia no meu quarto e perguntava se eu tinha entendido alguma coisa. Até meus quinze anos eu li o mesmo livro, até entender alguma coisa, sempre com ela perguntando o mesmo.

Ela sabia que eu lia livros que eram proibidos (até de sexo); que eu lia livros de política e jornais "avançadinhos". Ela sempre ficava como uma idiota do lado de fora do quarto, apenas coordenando aquilo que chegava às minhas mãos, muitas vezes “por baixo dos panos” (como se ela não soubesse...): "E aí? Tá aprendendo alguma coisa?!".

O seu “modo” de conduzir nossa educação me deixava cada vez mais perto de Deus e eu posso sentir a presença Dele em lugares e situações que muita gente nem desconfia, justamente por causa desta mulher. Então..., não sou católica, não sou religiosa... Decidi não ser.

Minha mãe sentava na beira de nosso jardim e sentia “coisas”. Ela previa “coisas”, percebia a presença de pessoas que morreram, ouvia “coisas” e rezava muito. Por muitas vezes ela vinha com informações detalhadas sobre lugares e acontecimentos que somente quem conviveu com ela sabia que ela tivera uma experiência “paranormal”. Ela ouvia o que a gente falava, ria e dizia que ela não tinha como explicar tal percepção, mas que para ela tudo era normalzinho, normalzinho; que aquilo nada tinha a ver com religião.

Depois de suas investidas além da imaginação, minha mãe ia às santinhas e santinhos que tinha num cantinho da janela, acendia uma vela e ficava em silêncio - sabe-se lá o que rezava ou pensava. Sabe-se lá para que mundo ela se transportava, depois de ter tido uma experiência daquelas, dita fora do normal.

Ela não falava diferente, não estrebuchava, nem nada! Ela apenas abria a boca e falava “coisas” que assustavam a todos, menos a ela – e tudo era posteriormente confirmado pelos “normais”. Quantas vidas foram salvas, quantas famílias foram aconselhadas, quanta felicidade e quanta sabedoria esta mulher passou!

Lembro de minha mãe voltando do jardim e dizendo que estava sentindo algo muito forte; que uma alma, que parecia ser sua mãe, estava ao lado dela. Ela dizia sentir até o seu calor e que essa pessoa queria conversar.

Fomos ver que dia era e descobrimos que era o dia da morte de minha avó (coisa que jamais poderíamos lembrar). E minha mãe disse que ela queria passar paz. Talvez o que minha mãe queira passar pra mim hoje.

Acho que tenho algo que herdei de minha mãe, mas nem quero saber o quanto e nem quero desenvolver isso, que é muitas vezes muito difícil de entender e passar. O meu lugar é aqui e agora. O meu lugar não pode ser outro além desse momento da vida. É aqui e agora que eu exerço o que outros tentam resolver em igrejas e lendo livros sobre o assunto.

Também não consigo entender livros. Acho tudo muito simples, pouco esclarecedor ou muito complicado (inclusive “bíblias”). Não menosprezo os estudiosos, nem os entendidos. Pelo que sei, justamente aqueles que têm mais espiritualidade são os que mais se recusam ao óbvio e aos cerimoniais. É assim que me sinto.

Quando minha mãe ficou sem voz, por consequência de uma lesão cirúrgica nas cordas vocais, após uma das várias cirurgias no pescoço e tórax, uma sobrinha disse: "Vó, você só vai falar no Natal".

Ela tinha uns dois anos e falou isso oito meses antes de minha mãe voltar a falar e engolir direito - de repente, justamente no Natal.

Um dia a mesma menina olhou pra mim e disse: "Tia, você está com dor no braço direito?...". Era IMPOSSÍVEL ela saber que era verdade, pois eu estava escondendo o sofrimento causado por um problema na coluna. Eu não queria que soubessem que estava com dor naquele dia, mas esta criança, ainda um bebê, me fitou profundamente nos olhos e me desmascarou. Depois, pegou sua chupeta e o travesseiro e foi dormir. E eu fiquei de boca aberta.

Foi assim com minha filha-afilhada-prima:

 "Eu sei que é um porre ser madrinha. Sei que você não tem tempo, pois estuda medicina, mas um dia eu posso faltar no mundo e você vai ser a mãe de minha filha", disse um dia minha comadre, esposa de meu primo.

Posso não ser a mãe ideal para minha afilhada-prima, mas ela sabe que eu a amo como filha, principalmente depois que sua mãe morreu.

Minha mãe tinha falado comigo justamente que, se a esposa de meu primo queria que eu fosse a madrinha de sua filha, era por alguma razão desconhecida na época. Minha comadre faleceu anos depois.

Esta é minha família bruxa... Adoro minha familia "bruxa"!

Nada é mais intenso para mim do que o que eu senti hoje. Nada é mais profundo do que o que eu escrevo e o que eu tento passar, mesmo que não entendam ou não aceitem. É a minha vida o que deixo neste site: a minha verdade, a minha visão do mundo.

Não tenho, até o momento, nenhum interesse de me fazer brilhante, bem sucedida com a página ou até ganhar alguma grana com ela. Se existe uma coisa que faço sinceramente e com minha alma mais pura, sem qualquer intenção, é este site. Isto aqui é mais que terapia. Talvez seja até a terapia que todo mundo deveria fazer: uma limpeza da alma.

Acho que procuro minha identidade espiritual através de meu site, mais do que faria em qualquer religião por aí. Através de minha descoberta interior eu encontro Deus - e isso nenhuma religião conseguiu fazer comigo até hoje! Através da escrita e de me revelar sem vergonha, sem preconceitos ridículos, eu me desnudo perante as forças negativas e positivas, sem medo de ser o que eu sou e expor as minhas convicções.

A santa Fátima, que tenho em minha casa atual, não é a de minha mãe. Eu trouxe pra minha casa, após a morte de minha mãe, as lembranças que jamais serão destruídas, infelizmente não trouxe a santa de minha mãe.
 
Essa imagem que eu tenho é muito parecida com a outra, só que foi um presente de dona Marina, uma senhora que eu tratei no começo de minha carreira como médica. Tem uma gavetinha na base, que quando aberta, a gente ouve a música Dela. Era uma herança de família, não valiosa, mas uma coisa antiga. Ela dizia que aquela Santa tinha que ficar ao meu lado, na minha casa. E assim eu o fiz.

Em certa noite, a caixinha de música tocou sozinha. Era impossível isso acontecer, pois a caixinha estava no alto de numa estante e ninguém mexia nela. Nunca a caixa tocou antes ou depois daquele dia e ninguém tinha mexido nela.

Dona Marina tinha sido internada em fase terminal na mesma época. Minha mãe virou pra mim e disse: “Dona Marina disse que não está sofrendo e veio se despedir”. Uns dez minutos depois o telefone toca e a filha dela avisa que ela acabara de morrer.

Não sou católica, não sou religiosa, não sou espírita, não sou estudiosa, não entendo nada, não sou nada! Sou o que vivi e o que presenciei na minha família e na minha vida pessoal.

Pode ser que gente com “cultura” dê um monte de explicação filosófica, psicológica e o escambal (que eu sei de cor), mas EU SEI com todas as letras, aquilo que eu assimilei, sem frescura, sem neuras, sem teatralismo, sem fantasias, sem superstição e com naturalidade; coisas que para outros seriam uma novidade, um milagre, um sei lá o quê, mas que apenas são uma parte de nosso cérebro que alcança níveis que todos podem um dia alcançar - é só acreditarem na existência de uma força maior e conscientizarem-se de nossa insignificância e ignorância nesse mundo.

Leila Marinho Lage
Rio, 13 de Janeiro de 2008
http://www.clubedadonameno.com