Toca do Vinícius e Leila Maria - da Rua Taylor a Ipanema Eu tive que me encostar num poste. Os pés doíam, a semana foi dura e ficar em pé horas, mesmo para um acontecimento maravilhoso ao ar livre em Ipanema, não fazia parte das minhas reservas de energia. Mas eu estava , vamos dizer, orgulhosa. Sim, o termo era este: orgulhosa. Eu senti isso ao assistir uma artista encantar o público com sua voz sendo espalhada aos quatro ventos no meio da rua. Observei o quanto todos estavam ali apenas por uma razão: a arte. Desisti de fotografar. Definitivamente eu preciso de uma máquina fotográfica decente... Quando eu vi um deus da fotografia com uma máquina de primeiro mundo, recolhi timidamente a minha na bolsa. Daí, vi o deus fotógrafo perto de mim e chamei baixinho: - “Psiu, psiu! Dá pra me dar uma foto aí?”. Ele deve ter entendido que eu não estava de brincadeira, pois imediatamente conversou comigo, levando a sério o meu pedido. Acho que era meu desespero por ter ido lá para registrar algo e não ter como. A multidão me encobria, a máquina fotográfica era uma dessas que a gente comprava a prestação nas “Casas Arapuã”... - “Bem, eu vou pensar no seu caso e passo para você pelo e-mail...”, deus disse. Vamos ver... Bem, agora voltando ao passado, deixem-me contar o que aconteceu: Leila Maria, a melhor cantora brasileira de jazz da atualidade. E não é só com música norte americana, não! Ela faz da Bossa Nova uma música universal e atual! Pois.... Leila cantava em meio a centenas de pessoas (a maioria moradora das redondezas), nesta noite de domingo. E eu babava (literalmente babava), encostada naquele poste, que nem sei se era um poste. Duas parceiras das loucuras momentâneas me acompanharam: Tereza e Eliana Rocha - pra variar... Mas, elas ficaram sentadas nos degraus de alguma loja, me observando e talvez comentando algo a meu respeito, tipo: “Esta doida não sossega o facho...”. Voltando mais um pouco ao tempo: O motivo da festividade não era Leila - Leila era o presente extra naquela noite. A razão de tanta gente sentada em banquinhos e cadeiras, em frente à loja Toca do Vinícius, era Zezé Motta, atriz, dançarina e excelente cantora, que estava sendo homenageada, marcando suas mãos na calçada da fama de Ipanema, homenagem prestada a várias personalidades nacionais e internacionais há mais de 37 anos (leiam mais a respeito nos links abaixo deste texto). Chega Zezé, despojada e à vontade, como toda boa moradora de Ipanema, um dos bairros mais nobres da cidade, consagrado pela constante e tradicional presença de artistas e consagração da cultura carioca. Lá estavam diversas pessoas importantes da sociedade. Não me perguntem nomes, porque ninguém ali queria se destacar. Todo mundo de bermuda, camiseta e o seu melhor banquinho trazido de casa ou os que a livraria conseguiu providenciar. De repente, na noite clara, com uma lua maravilhosa e ainda com som de cigarras, abre-se um vozeirão. Zezé fez uma capella, cantando "Minha missão", de Paulo César Pinheiro e João Nogueira. Ela não cantou, apenas. Ela atuou num monólogo musical, fazendo apologia ao ofício do cantor. Emocionante! Depois chega Leila. Ela fez algo (mais tarde vim saber por ela que foi improvisado), que eu nunca tinha ouvido antes: cantar sem respirar. Pelo menos, me pareceu que ela não precisava respirar... Ela emendou frase por frase, nota por nota, na música “Valsinha”, de Chico Buarque, sem nenhum instrumento musical para acompanhar. Era um lamento, mais que uma valsa; ela fez jazz com uma modinha. Sua voz, tanto quanto foi com Zezé Motta, penetrava pelas janelas dos prédios, em cada bar ao redor, hipnotizava o pessoal da rodinha (uma pequena rodinha de centenas de pessoas). Nós resolvemos continuar ouvindo o show num bar próximo (vários setores do meu corpo já não funcionavam legal) e tive a felicidade de depois me encontrar com minha “amigaxará” e sua mãe, também minha xará. Se uma Leila incomoda muita gente, imaginem três! Ainda bem que o encontro durou pouco tempo, pois se mais durasse, a clientela não ia ter sossego. Eu já conhecia Leila, mas... Leila mãe é algo de especial! Sabem o que significa emoção? É o que elas passaram para nós. Algo que não se explica, só se intui. Depois dei uma passadinha na Toca do Vinícius, que já estava fechando, para comprar alguns discos de Leila, pois havia sobrado alguns exemplares. Obviamente, tirei uma foto dos proprietários, Carlos Alberto Afonso, ex-professor de literatura, e sua esposa. Ele escreveu o livro ABC de Vinícius de Moraes em 1991. Lá podemos encontrar livros com tudo sobre música, discos e um pequeno museu de bossa nova, onde a personagem principal é Vinícius. O espaço também está aberto para eventos artísticos. Daí, percebemos que Papai Noel estava de brincos e com um belo tórax à mostra. Tereza disse: “Vai lá, Leila! Tira uma foto com ele!”. Como eu poderia?! Eliana não dirige - ela voa; quem teve a idéia foi Tetê e eu é que estava com a máquina. Só deu mesmo para mandar um beijinho pra ele e dizer que estava uma gracinha, e fui muito bem correspondida com um tchauzinho simpático. - “Vai te catar, maluca!”. Ela já estava meio bolada comigo a noite toda, quando descobriu que não ia à feira de São Cristóvão, e, sim, ouvir Zezé Motta e Leila Maria. Mas, tudo bem... Ela adorou, como também Tetê, que deve estar ouvindo Leila até agora no CD. Qualquer hora dessas a gente vai dançar xaxado e comer carne de sol... Leila Marinho Lage Links Toca do Vinícius:
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