AUTO DO PADRE
Texto e direção de José Farid Zaine
1
Quantas palavras serão necessárias
Para se contar uma vida inteira?
Ainda mais quando essa vida é intensa,
Do primeiro instante à cena derradeira?
2
Que imagem, que verso, que canção,
Precisaríamos para ilustrar o seu início?
Talvez desenhando no céu um coração
E dentro dele um nome: Maurício!
3
Ele veio para nós com sua enorme missão,
Daquelas que Deus sempre deseja
Um filho escolhido, um nosso irmão,
Para ser o defensor de sua Igreja...
4
Nascido na cidade de Tambaú
Tão conhecida por seu Padre Milagroso
Cedo veio para Limeira, depois Cordeirópolis
O menino responsável, o filho carinhoso...
5
Ainda muito jovem descobriu a vocação
Mas as portas se fechavam em seu caminho
Vieram enfim dois anos de seminário em Araras
Depois Conchal, Americana, Cordeirópolis- seu ninho
6
E Cosmópolis também ganhou sua presença
Como diácono da Igreja Católica Apostólica Romana
Mas Limeira o abraçou de forma definitiva
Daqui se espalharia sua obra e sua fama
7
Foi em dezembro de 1988
Que finalmente foi sacerdote ordenado
E milhares o aclamaram quando Deus
Quis lhe dar o destino a ele consagrado
8
Santa Luzia fez então o seu pedido
E aqui ele chegou com toda a chama
Que o escolhido sempre leva no seu peito
E sobre o seu novo lar com fé derrama
9
E vieram cargos, nomeações, muitas homenagens
Para aquele que veio a serviço do Senhor
E plantou no coração da cidade de Limeira
Um exemplo de trabalho e de louvor
10
Aos seus braços vieram excluídos,
Os que foram na vida marginalizados,
Os pobres, os doentes, os tristes, esquecidos,
E por ele foram todos abraçados
11
Ele amou a sua raça, a sua negritude
E clamou por justiça à história do seu povo
E conseguiu mostrar em toda a plenitude
Que o sangue negro semeou um mundo novo
12
E a memória desbotada pelo tempo
Teve nele seu mais fervoroso restaurador
Seu traje africano esvoaçando ao vento
Era a marca da coragem e do amor
13
Uma raça inteira inundou os templos
Como se pela primeira vez lançasse seus clamores
Deus ouviria esse canto forte e poderoso
Que subiria aos céus levado em seus tambores
14
e um povo feliz acordaria a adormecida história
cantando festiva e ruidosamente a sua crença
iluminando do negro a sofrida memória
agora carregada na bandeira da esperança!
15
E foi Maurício para os templos, para as praças,
Com suas vestes coloridas, seu equeté
Nem sempre compreendido, mas nunca ignorado
A voz poderosa a proclamar a fé...
16
Nem o riso escancarado da felicidade
Ele jamais deixou de demonstrar
Assim como o pranto da tristeza que sentia
Deixava na face abertamente desabar
17
E vinha diante da assembléia imponente
Como um gigante de Deus abençoando
Crianças, velhos, doentes, casais,
E sempre os seus cantos alegres entoando
18
Jesus ganhou danças, flores, teatro,
Jesus ganhou um povo alegre e destemido
Que era feliz no seu louvor completo
Que se elevava festivo e colorido...
19
Pela nave da Igreja vinha ele sorridente
E um coro poderoso preenchia todo o espaço
Eram as ovelhas do seu monumental rebanho
Esperando a sua bênção, seu sorriso, seu abraço...
20
Maurício amava a vida com toda a intensidade
Aos amigos entregava por inteiro o coração
Seu prazer era dividir felicidade
E com todos repartir sua emoção
21
E como nos feitos milagrosos de Jesus
Em sua paróquia os pães se multiplicaram
Não faltou comida, não faltou abrigo,
Porque seus fiéis unidos trabalharam
22
Foram alimentos para os necessitados,
Foi o remédio levado até o doente
Foi o amparo aos atirados no abandono
Foi o anjo nas ruas recolhendo gente...
23
Seu trabalho era árduo em tudo o que fazia
E suas tarefas pareciam nunca acabar
Conselhos, articulações, viagens, medalhas,
A sociedade inteira a celebrar
24
África e Equador conheceram seu talento
Religiosos de outros credos se renderam
Ao poder de sua palavra e sua fé,
Que a admirar humildemente aprenderam
25
E agora...que seu coração parou tão de repente
Estaremos todos tristemente a vagar a sós?
E agora? Que o senhor o chamou precocemente
E agora, enfim, o que será de nós?
26
Agora eu, um pobre morador da rua
Proclamo a quem me queira ouvir:
Eu sou Maurício! O que ele fez por mim
Farei também por outro que há de vir
27
E eu, mulher desprezada, arremessada ao mundo
Dentro da minha fraqueza farejo nova guerra
Eu sou Maurício! E sei que lutarei com o meu braço
Pra que mulher nenhuma sofra sobre a terra
28
Eu, negro, que fiz nascer a história do país
E que tive ancestrais construindo esta cidade,
Eu digo: Eu sou Maurício, eu amo a negritude,
E jamais deixarei de lutar pela igualdade!
29
Eu, doente, enfraquecido, discriminado,
Vítima da dor maior do preconceito
Grito alto: Eu sou Maurício, e serei iluminado
Para mostrar a cada um o seu direito!
30
Eu, faminto, sem um lar , sem alimento,
Que aqui sempre encontrei afeto e abrigo,
Proclamo: Eu sou Maurício, é meu alento
Encontrar a cada dia um novo amigo
31
É assim que eu o vejo, meu eterno padre
Com o sorriso mais alegre e mais bonito
A comandar um batalhão de anjos
Trabalhando por nós no infinito...
32
É por isso que agora não mais choramos,
Nem ficamos apenas lamentando tua partida
Agora és mais uma luz, mais uma estrela
A nos guiar certeiramente pela vida
33
Por isso eu sou Maurício, todos nós somos
Esta certeza por fim secou o nosso pranto
Através de nós ele estará vivo para sempre
Como o Deus que ele louvou em cada canto!
Conheçam José Farid Zaine, a história do padre Maurício e a Cidade de Limeira acessando o link abaixo, que está em Espaço Cultural (Fórum Social Mundial - Limeira no Aterro):
http://www.clubedadonameno.com/devaneios/mostra_devaneios2.asp?id=399
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