Cabe compreender a crônica como literatura jornalística ou jornalismo literário, gêneros de difícil classificação, mas reais e presentes, tanto na história da literatura como da imprensa. Dou-lhes um rápido exemplo de breve crônica na qual coexistem: confidência, intimidade, impressionismo, prosa poética, breve história - é a auto suficiência do irrelevante. Escrevi-a anos atrás e vai aqui um trechinho da mesma, que relata um acordar-se borrachoso num domingo qualquer, tomar café da manhã e, em vez de descansar, ler, sair o devanear, resolvo abrir o computador: Paquidérmico, movo-me (arrasto-me?) após o café da manhã, tomado às onze e meia... Sinto-me gasoso, cheio de bolinhas de água mineral na alma, saturado de anidrido carbônico, como diria um químico indiferente. Não, não é ressaca. Pouco ou nada bebo, de álcool. É um tédio vago, já tantas vezes decantado em prosa e verso por escritores de talento. Nada original, pois. Abro o computador? Não. Hoje vou descansar. Ilusão... A dependência obsessivo-internético-neurótica acaba por vencer-me. Sou derrotado! O primeiro dos 38 “imeios” na caixa me toma de surpresa e felicidade. Emociona. Acostumei-me a sentir no texto e na voz das pessoas as suas verdades e afinidades. Sim, estava eu diante de um desses indefiníveis momentos de afinidade. Não porque ali magicamente aparecia um texto generoso, afetivo e fraterno, mas por eu haver sentido um clima de outras eras, tempos e encarnações. Tudo se transforma em deliciosa sensação, e cá estou a responder, sem saber por quê, não sei se agradecido ou se simplesmente feliz. www.arturdatavola.com |