Meu bobó - Hora da verdade... Mandioca para ser cozida, tem que ficar macia de ponta a ponta. Coloquem os pedaços na água temperada com um tanto de sal. Mesmo que não salguem direito, nao se preocupem: vão precisar temperar de novo depois. A panela tem que ser grande. De preferência, dividam em duas panelas. Não deixem passar do ponto, pois se estas queimarem, vão ficar amargas. Aliás, existem umas mandiocas aí que são lindas, cheirosas, macias etc , mas quando a gente vai comer, cara, são nojentas! É contrato de risco, não há jeito... E não é em todo lugar vocês vãoi encontrar alguém lhes oferecendo uma amostra pronta, de mão beijada, né? Esqueça da mandioca depois de cozidas. Deixem-nas quietas esfriando. Já compraram o camarão? Não?! Ferrou...
O camarão tem que ser o cinza médio. Não é necessário camarão grande, até porque não são tão saborosos.. O pequeno só serve pra enganar a gente: são baratos, mas não prestam pra nada. Quem quer comer, também quer ver, admirar. A média nunca decepciona - nem tanto, nem tampouco.
A quantidade de camarão para um bobó para umas seis pessoas, deve ser de dois a três quilos. Tem gente que espinafra o anfitrião só porque ficou catando os camarões dentro do bobó. O bobó tem que mostrar ao que veio: muito camarão. Como este bobó vai render, e vocês vão colocar mais água no dia seguinte, cada vez mais haverá menos camarão, entendido?
Pra não terem trabalho, comprem camarões já descascados e limpos, mas levem as cabeças. A gente pensa que a cabeça de camarão não serve pra nada. Que isso?! As cabeças são sempre úteis.
Lavem as cabeças e as cozinhem em água. Não precisam gastar sal. Depois de frias, triturem num liquidificador e coem o caldo. Aí, sim, as cabeças já deram o que tinham que dar e podem ser jogadas fora. O caldo é que é o importante.
Agora vem a hora dos temperos. Não compraram? Voltem à feira rapidinho. Comprem salsa e cebolinha (mais conhecidas como cheiro verde), cebolas (umas três grandes), alho (uns cinco - vão ser amassados), tomates (uns cinco - vocês terão soltar suas cascas no fogo). Podem substituir tomates naturais por uma lata de molho de tomate – não serve extrato de tomate. Podem ser mais antinaturais ainda: acrescentem uns três quadradinhos de tempero concentrado de camarão ou de bacalhau. Desses que dizem causar câncer na gente.
Nunca usem esses potes de alho amassado em conserva. Aquilo é um perigo pra saúde... Pra quem não sabe descascar alho (que linda fonética...), a solução é comprar um ramo de galhinhos do alho, com broto e tudo. Têm um gosto mais ativo que o próprio alho, mas é difícil encontrá-los à venda.
Se tiraram a pele do tomate, se descascaram a cebola e amassaram o alho, então o caldo da cabeça de camarão e o aipim já estão até gelados. Façam o refogado em azeite ou óleo. Primeiro dourem a cebola; depois acrescentem o alho; esperem dourar um pouco e depois juntem o tomate e o cheiro verde. Coloquem dois pacotinhos do tempero que dá câncer na gente.
Agora chegou a hora da verdade... Podiam ter feito isso um dia antes... Peguem as mandiocas cozidas e coloquem aos poucos, pouco a pouco no liquidificador, misturando o caldo da cabeça de camarão. Podem complementar com água, também aos poucos. A consistência deste caldo deve ser de mingau. O aipim (mandioca, macaxeira) vira um grude, uma cola, uma coisa horrível, se ficar muito espesso. Mas nunca deixem virar um caldo muito fluido. Bobó aguado é coisa de pobre! Somos pobres, mas não perdemos a pose. Nada de enganar seu convidado com sopinha de bobó, ok?
Conseguiram retirar as fibras das hélices do liquidificador? Lutaram com o mixer? Queimaram a fiação dos aparelhos? Tudo bem... Na próxima tentativa sairá certo.
Mandioca tem fibras e essas fibras demoram pra triturar. Então, se deixaram o caldo sem bolotas, mas está com fiapos, retirem-nos com uma escumadeira ou coem.
Misturem o refogado ao mingau de aipim e triturem também. Este prato [e bobó, e não, sopa, portanto não deve ter nada boiando além do camarão.
Lavem os utensílios logo, antes que a gororoba que sobrou seque nas panelas e no liquidificador. Caso contrário, saberão o quanto uma mandioca dá trabalho...
Tudo na panela misturado? Agora peguem uma ou duas garrafinhas de leite de côco. Quem mora em outro país vai se danar pra encontrar. Aqui existe em cada esquina.
Chegou a hora de temperar definitivamente com sal. Depois de tanto trabalho, pelo amor ao bom Deus, não assassinem o bobó com muito sal, tá? Como leite de côco já é meio adocicado, o sal entra por último. O ideal é fazerem bobó meio insosso e quem quiser que se mate podo mais sal em seu prato.
Tudo pronto? Não! Quem gosta de azeite de dendê (que eu odeio), pode colocar até dar o sabor (horrível) desejado. Eu prefiro azeite de verdade, ou seja, de oliva.
Camarões lavados e limpos? Então peguem uma panela, coloquem muito óleo e deixem esquentar bem. Os camarões, secos e descascados, devem ser fritos até pegar cor.
Cuidado pra não colocarem água dentro do óleo, porque sairão chamuscados da cozinha para um hospital. A fritura é coisa rápida. Se colocarem pouco óleo, e este não estiver muito quente, os camarões vão cozinhar apenas. É como fazer batatas fritas.
Levem a maçaroca ao fogo novamente. Terminem de cozinhar os camarões nela. Descansem o bobó por meia hora tomando gosto antes de servirem. Para reesquentar, é preferível o miroondas ou o forno. Mesmo mexendo o tempo todo com uma colher grande, no fogo o bobó pode queimar nas beiradas e no fundo.
Por isso o prato deve ser feito no dia anterior e conservado na geladeira ou freezer. Assim terão tempo de arrumar a casa e os colchonetes, para a turma tirar uma soneca depois do almoço.
E salve-se quem puder!
Beijos da Dona Menô
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