Clube da Dona Menô
Dona Menô
Com pedigree
Receita da Dona Menô



Meu cachorro quente vai ficar mais caro. Eu não poderia vender naquelas barraquinhas de esquina por dois reais... Mas, também, ninguém vai ter dor de barriga.
 
Quem espera ler uma receita prática para fazer um cachorro, tá fu, porque, como dizia Chacrinha, eu não vim aqui pra explicar; vim pra confundir. Também não faço nenhum menu sofisticated; só mesmo comida pra burro. Que? Não entendeu? Vou explicar:
 
Depois que comecei a fazer meus roteiros gastronômicos muitas mulheres que nem sabiam fritar um ovo (ainda vou ensinar como se frita) estão ganhando pontos com seus parceiros, e outras coisas também... 

Vamos ao meu hot dog com pedigree:



Primeiro que salsicha não dá piriri. Ela tem tanto conservante que mata até bactéria... É mais fácil pegar vermes com os alimentos na manipulação dos mesmos e com suas mãos sujas. Higiene é tudo! Por isso meu cachorro fica caro, não só pelos ingredientes, mas pelo trabalho desgraçado que dá lavar panelas, a cebola, os tomates; trocar pano de prato; lavar as mãos de novo e a pia... Tudo tem que ser muito bem lavadinho. E tudo muito cozidinho também, tá?
 
Gosto do salsichão. Nada de salsicha ou linguiça anêmicas. Tem gente que até faz cachorro quente com salsicha branca, aquela alemã... Coisa horrorosa... Parece um cadáver... 

Para não dizer que meu cachorro é antidietético, politicamente incorreto, e para enganar os tolos, faço tudo light, menos a salsicha, obviamente. Salsicha light tem gosto de papel. No mínimo, seis unidades, se for pra três pessoas. Se alguém for guloso vai comer mais de uma. 

Retire-as da embalagem, lave e as cozinhe com água apenas, numa panela separada, para jogar aquela água fora depois.
 
Descasque e corte duas cebolas grandes em fatias finas. Use seus óculos de leitura, que você esconde de todo mundo. Assim, o gás cebolal não queimará seus olhinhos. 

Frite-as em azeite, não em óleo. Gosto de azeite extravirgem, de preferência orgânico, sem agrotóxicos (já viram que começou a ficar caro o meu lanchinho, né?).
 
Quando as cebolas estiverem bem molinhas e quase morenas - É  melhor não abusar da sorte e torrar as cebolas - coloque o pimentão, também em tiras, e deixe cozinhar um pouco. Por favor, não deixe entrar semente de pimentão. Isso é preguiça ou o quê? Lembre do dia seguinte, viu?
 
Não use alho. Só vai feder suas mãos e o sabor do alho vai ser escondido pelo sabor do pimentão. Se as pessoas desejarem, poderão usar molho de alho ou pedacinhos de alho torrado em separado. Então, pra que ter trabalho desnecessário? É quem nem azeitona: onde entra azeitona nenhum outro sabor é realçado. 

Uma barbaridade é colocar molho de tomate em grande quantidade. Gente, aquilo tem gosto doce e é cheio de um monte de química! Deixem pra se intoxicar com a coca-cola zero! O bom é saber antes qual o molho de sua preferência, experimentando nas macarronadas que você faz pro seu tio esclerosado. De macarronada em macarronada você descobre o melhor molho industrializado.
 
Colocar catchup nesse prato também é sacanagem. Deixem este veneno para as criançinhas usarem como molho extra. Elas colocam TUDO no sanduíche, inclusive esta coisa. Um bom molho pra se colocar depois de pronto é a mostarda escura, tipo holandesa, que dizem que é preta, mas, na verdade, é ocre, feita com as sementes e cascas de uma leguminácea chamada brasica rapa. A mostarda escura é um condimento mais picante (inclusive no bolso) e dá um sabor mais elegante ao nosso prato. 

Pois bem, coloque junto com a cebola e o pimentão o tal molho de tomate e as salsichas, deixe pegarem gosto, cozinhando mais um pouco.
 
Agora é que chegou a hora H.. Os tomates... Tem que se acrescentar uns três tomates grandes em pedaços, senão fica pobre demais. Agora, ser pobre mesmo, de espírito, é colocar tomate com casca e semente. Aí é que pega. Tem que soltar as cascas dos tomates no fogo, depois lavá-los em água corrente, pra não queimar seus dedinhos, cortá-los em pedaços e retirar o interior. Isso suavizará o sabor marcante do molho de tomate em lata. Preste atenção: falei molho de tomate, pelo amor de Deus! Não vá colocar extrato de tomate, ok? 

Temperar o molho com sal, vai depender do tempero desse molho. Escolha o sal sem sódio, o dietético. 

Sabem o natureba que diz só comer alimentos vivos? Não acredito em naturebas, gente... Eles comem alimentos frescos e crus, mas, não, vivos. A não ser que pesquem uma sardinha e comam diretamente do mar. Fora a saladinha de cenoura e beterraba cruas, cortadinhas em tiras finas, pouca coisa fica bem em culinária quando é crua. Mas é verdade que comemos muitos poucos nutrientes quando cozinhamos os alimentos - uma grande parte das vitaminas naturais deles se quebram com ação do calor. Neste caso, deixem os tomates quase crus. Vai dar a impressão de que a refeição é quase saudável... 

Assim, podemos detonar de vez fazendo uma bata frita à portuguesa. Nada de batata palha, cheia de gordura e sal. Assim é demais. Batata tem que ser gordinha, macia e ser comida separada do sanduíche.



Dizem que fritar batatas faz com que se solte uma substância aí que mata na certa. Bem, se alguém morreu por causa da batata frita eu não sei, mas, a esta hora, esta alma deve estar comendo umas lá no céu. Vamos fazer o seguinte (nem tanto nem tampouco): comam umas três fatias (se conseguirem)...



Cachorro quente pode ser servido no pão, mas eu gosto mesmo é de comer com garfo e faca, acompanhado de arroz tailandês, que possui um cheirinho característico e delicioso.

Bem, as coisas baratas no meu cachorro quente são a batata, a cebola, o pão, o pimentão, a água (ou nem tanto, de acordo com a minha conta do mês). Por isso, acho que podemos usar baixela de porcelana e taças de cristal com um bom vinho português. E esqueça de ervilhas, passas e sei lá mais o quê, para se por no cachorro e acabar com minha iguaria!


 
Beijocas doces e triglicerídicas da Menô
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