A Mudança (05)
A abstinência sexual
Uma tarde de semana, muitas coisas para arrumar. Não havia como atender pacientes. Eu jamais conseguiria arrumar tantas coisas apenas à noite, ainda mais tendo que respeitar a lei do silêncio. Tive que desmarcar o pessoal. Certas coisas só a dona de casa pode fazer e ninguém pode substituir à altura essa tarefa de organizar o espaço novo que se escolhe para morar.
Minha secretária muito gentilmente organizou a remarcação das pacientes e constatou que não havia nenhuma paciente grave a ser atendida. De repente recebo a ligação dela dizendo-me que houve um problema com uma paciente - ou melhor, com o marido da paciente.
Assustada, eu me preparei para receber o rojão: “Diga devagar o que aconteceu”. Ela disse que o marido se aborreceu ao saber da desmarcação da consulta da esposa. Eu disse que isso era normal acontecer, mas o ruim foi o que ela ouviu dele:
“Quer dizer uma vez vou ter que deixar de transar por três dias?!”. Minha secretária me pediu desculpas por ter tomado a iniciativa de responder ao homem. Pedi para que ela novamente falasse devagar qual foi sua resposta, a fim de me preparar para o que ia ouvir. Ela disse a ele:
“O que a doutora está fazendo é muito mais importante que sua abstinência! E eu não estou interessada em saber sobre sua vida sexual!”. Eu não sei quem é a paciente, muito menos o marido. Só sei que isso é falta de respeito e de consideração. Hoje em dia o médico é considerado mão de obra barata. O pessoal diz por aí que pode encontrar um em cada esquina, como já ouvi de uma paciente. Sendo assim, deixo para Dona Menô dar a resposta que faltou:
“O senhor não tem a menor criatividade...”. PS: Não é necessário ficar três dias sem sexo para se colher um preventivo. Bastam apenas 24 horas.
Leila Marinho Lage
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