Clube da Dona Menô
Dona Menô

Existe um gatinho – capítulo II

Zooterapia
 
Os mais céticos dirão: "Detesto animais!". Também detesto... porque não os posso ter todos ao meu lado, portanto, contento-me com plantas...

O caso é o seguinte: não existe na face da terra, além de crianças, terapia melhor para a nossa cabeça do que a que praticamos com os animais, pelo menos na minha concepção. A gente pode amar, namorar, ter uma família enorme, vida social intensa, mas um animal nos complementa nos momentos solitários, o que acontece com qualquer ser humano.

Seja qual for o animal, este tem um olhar que penetra em nossa alma e diz mais do que muitos livros, diz mais que toda a nossa experiência no mundo. Deus colocou animais "irracionais" na terra para sabermos que somos bem diferentes deles. Somos tão diferentes que, com toda a nossa inteligência, ainda continuamos selvagens, mais que eles.

Escrevi há pouco tempo uma mensagem chamada "Existe um gatinho". Mando dois links. Leiam após esta crônica:

No Clube da Dona Menô, meu site
OU
No Clube da Menô (Recanto das Letras)

Foi um texto-pedido-de-socorro, à procura de adoção para Fidel, o gato atropelado que minha amiga Leila Maria estava protegendo. Ela não era dona dele, pois a dona não o queria mais depois do acidente.

Leila Maria, A CANTORA, se virou como pode durante uma semana. Eu liguei para ela no meio de uma tarde para saber de Fidel e ouvi seus miados desesperados de dor. Ela estava correndo para pedir socorro para sua amiga veterinária. Ela me dizia que ele não podia ficar na situação que estava, mesmo que ela não tivesse grana para tal atendimento. Um serviço público aí, de referência, não acertava com o diagnóstico do que levava o gato a ter tanta dor e falta de ar.

A indicação foi cirurgia imediata, e quem descobriu o que ele tinha foi a dra Patrícia Montechiari, clínica e cirurgiã de animais "irracionais"... Dra Patrícia sacou logo o que acontecia, ao analisar uma simples radiografia. O bichinho teve ruptura do músculo diafragmático, que divide o tórax do abdome. As alças intestinais e os órgãos estavam comprimindo o pulmão. Isso é muito comum em acidentes por esmagamento.

O gatinho agora tá legalzão - todo costurado, mas feliz. E o mais importante: depois do alarde que foi feito, a tia de Leila Maria,  mesmo não sendo um amante inveterada de gatos, se compatibilizou com o drama e adotou Fidel.

Parece que Fidel está na berlinda. Até os vizinhos perguntam por ele, principalmente os cães, pois o gato fez amizade com todos!

Eu hoje lembrei de um gato de minha prima, que foi adotado na época do desmame. Foi separado da mãe muito prematuramente e alimentado com mamadeira.

Minha prima tem dois cães, um vira-lata macho e uma ladradora fêmea. O vira-lata decidiu por conta própria, na sua irracionalidade, amamentar o gatinho, mesmo sendo macho. Ficava todo babado nos mamilos o dia todo e se abria como cadela para o bichinho se sentir protegido. A labradora também aderiu aos cuidados e até passou a produzir leite... Vendo essas atitudes "irracionais", eu percebo que animais se comportam do jeito que Jesus sempre desejou para os humanos.

Quem tem um filho neuropata ou deficiente mental, até mesmo alguém idoso na família com distúrbios neurológicos, devia procurar os serviços de terapia zootécnica. Já está bem implantado em nosso país a equinoterapia (com cavalos), mas até um gatinho, um cão, um pássaro, um peixe podem fazer o mesmo benefício, desde que estes sejam cuidados com amor e respeito. Eles dão em troca mais do que agradecimento, eles dão energia espiritual, exercitam o que de melhor temos, e se comunicam em uma linguagem não totalmente entendida na teoria.

Já foram feitos estudos com doentes terminais com câncer que melhoraram a partir da responsabilidade em cuidar de um animal doméstico. Isso é realizado em hospitais norte-americanos desde a década de 60, e também aqui no Brasil, muito esporadicamente, onde existem serviços direcionados para a população de média ou alta renda... Fora isso, todas as pessoas solitárias sentem-se menos sós quando convivem com um animal.  Eles interagem positivamente na melhora da qualidade de vida de seu dono. Posso dar um exemplo:

Tenho uma paciente com uma doença autoimune, num estágio avançado - lupus eritematoso sistêmico. Ela está estável, muito bem agora, mas sabe que tem uma bomba atômica que deve encarar durante a vida toda. Eu a conheço há anos e acompanho sua vida e suas complicações bem de pertinho. Hoje ela melhorou quase 90% de sua patologia, apesar de sequelas. Ela trabalha, é uma pessoa normal, apesar da doença e apesar de não ser muito bem entendida pelos vizinhos. Ela tem gatos e cães - alguns- e cuida deles como filhos.

Um dia ela chegou lá no consultório dizendo que os vizinhos a criticavam por isso; que os bichos não davam trégua no barulho, apesar de os mesmos serem muito pacíficos. Muita gente se incomoda com a felicidade dos outros e querem porque querem acabar com isso. Era o caso.

O que me emocionou, fazendo-me quase chorar bem na frente dela, foi o seu olhar para mim, ao dizer que se sentiria só e "doente" se tivesse que se desfazer de seus amores. Talvez até morresse, eu acho. Ainda bem que entenderam e convivem com latidinhos e miadinhos de VIDAS ao lado de suas casas.

Gostaria que lessem sobre a médica psiquiatra brasileira Nise da Silveira. Ela, sim, pode explicar melhor. Ela tem livros, um deles eu estou procurando que nem doida para dar pra Leila Maria, pois está esgotado - este deve estar dentro de algum armário ou eu dei pra quem precisava mais do que eu, não sei...

Um dia eu comprei o tal livro ("Gatos, a emoção de lidar") para aprender sobre gatos, pois eu tinha uma visitante acidental que me tomou anos de emoções, felicidade e preocupação, Clarence. Lendo o livro, eu me deparei com uma personagem MARAVILHOSA, que, além de experiente e boa médica psiquiatra, era uma criança com seus gatos e fez disso uma meta terapêutica, fora um trabalho lindo com "imagens do inconsciente": arte e doença psiquiátrica:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Nise_da_Silveira

Fidel, até o momento, vive seus cinco minutos de fama. Leila Maria, mais uma vez, se fez menina, apesar de ter suas responsabilidades profissionais e familiares. E eu fico aqui, que nem uma idiota, toda emocionada com a recuperação de um bicho que nem nunca vi na vida!!!

Tudo isso foi possível através da bondade de minha amiga e da competência e benevolência da referida médica veterinária. Por isso mesmo ela merece destaque nesta crônica, como também, sua divulgação:

Dra Patrícia Montechiari
021) 2512.-3694
(021) 8759-4804

p.montechiari@ig.com.br

 
Leila Marinho Lage
Rio, 14 de março de 2009
http://www.clubedadonameno.com

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