Medos Eu acho que não preciso trabalhar nada. A vida me ensinará o que vai ficar realmente registrado como importante. O que é de valor vai aparecer e acontecer. Não precisarei “burilar” nenhuma percepção que, a princípio é instintiva, pura, sem qualquer influência intelectual.
Do que falo? Dos medos... Não exatamente os meus, mas os medos os quais me deparo com certa freqüência em minha profissão. O medo ao que me refiro nesta crônica-artigo é o do câncer. Nós vivemos em cidades neuróticas, onde a gente não sabe se vai ser assaltada ao sair de casa para ir ao mercadinho. A gente não sabe se uma bala perdida vai encontrar nosso cérebro ou se algum maluco vai nos agarrar num beco; se um assaltante de carro, cheio de cocaína na cuca, vai projetar uma bala em nossa barriga, mesmo depois de fazer o seu ganho. A gente tem medo... Uns têm medos estranhos, como o de entrar em elevadores. São fobias. Uma das maiores fobias é estar em lugares altos. Outra fobia, muito em voga, é a síndrome do pânico, que na verdade não é fobia, e sim, uma disfunção neurológica. Pessoas têm medos incrustados em suas trajetórias de vida. Uns são explicáveis, outros não. Como entender uma pessoa que passou a vida inteira com medo de tudo, até de sair sozinha para a rua, para ir a um banco, para descer uma escada rolante, e que de repente tem coragem de encarar uma doença grave e se sair bem dessa? Uma pessoa que teve um câncer e ficou calma como uma nuvem; que fez seu tratamento todinho, mesmo o mais difícil, e em nenhum momento se desesperou, perdeu a vontade de se curar ou se revoltou. Como entender que uma pessoa “medrosa” em questão de dias tenha se tornado a pessoa muito corajosa e tenha surpreendido todos à sua volta? Assim foi com uma paciente, que hoje está curada de um câncer grave. Ao perguntar para ela o que a fez ter tanta força, sua resposta foi: “Desde que me conheço por gente tenho medo de algo que eu não sabia o que era. Eu sabia apenas que eu tinha medos infundados, mas, mesmo assim, eu sofria. Quando o bicho papão me apareceu ao vivo e em cores, bem diante de meu nariz, vi que não precisava mais fugir, pois já havia encontrado aquilo que me atrapalhou a ser tranquila durante minha vida toda. Daí, lutei contra ele e aqui estou. Eu só precisava saber o nome dele...”. Medos todos nós temos, mas dar nomes aos bois, vai depender do que achamos ser nossos bichos-papões. Leila Marinho Lage Rio, 30 de julho de 2009
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