Clube da Dona Menô
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Perda
Poema e Formatação de Leila Marinho Lage

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Comentário:

Ai, que saudade, Marli!

Marli é uma prima que não é prima. Sabem estas pessoas que nasceram junto a nós e com quem convivemos como se fosse família? Esta é Marli.

A gente fica afastada por anos, muitos anos, mas em certa hora a gente se encontra e coloca os anos em dia... Tive a honra de trazer ao mundo sua filha, que hoje é enfermeira.

Mas na nossa infância e boa parte de adolescência fomos unha e carne – ela era a unha e eu a carne... Ela até quebrou um dente meu. Não foi briga não. Simplesmente ela queria pular por cima de mim e esqueceu o pé perto de minha boca... Ela olhou pra trás depois de saltar e perguntou porque eu beijava o chão..Não dava pra explicar, pois eu tentava achar o pedaço do incisivo que senti cair.

Marli tinha o diabo no corpo, até na hora de dormir. Ela se balançava toda e eu tinha que dar espaço na cama para ela fazer aquelas acrobacias durante o sono. Seu corpo era projetado de um lado para o outro até ela se acalmar. Ela dormia e eu não conseguia entender alguém se sacudir toda assim! Como criança acha tudo normal daquilo que vê, eu achava que existiam pessoas que dormiam recebendo um santo a madrugada toda. Era ela se balançando e meu irmão andando pela casa em pleno sono.

Ela tinha e tem uma bela voz. Eu a admirava quando cantávamos boleros. Aí vão perguntar: Mas logo bolero?!Sim, boleros. Especialmente com Eydie Gourmet
. Nossos pais adoravam essa cantora. Fomos embaladas no sono e na vida com orquestras brasileiras e americanas, fados e com boleros. Sabíamos todas as letras. Lembro de algumas até hoje.

Ela morava e mora em Nilópolis, região da baixada fluminense, e por lá eu passei muitas vezes quando menina. Lembro que o Clube Azul e Branco, que deu origem à Escola de Samba Beija-Flor era bem em frente à sua casa. A gente rezava para os ensaios pararem e nos deixarem dormir. Eu não sabia o que era mais horroroso: se aquela música alta na minha cabeça ou Marli pulando sonambulamente ao meu lado...

Quando a gente queria abafar o som da Escola de Samba, colocávamos discos de bolero. Como éramos pobres, acabamos ouvindo centenas de vezes as mesmas músicas. Era bom, pois nossos pais, tanto os dela quanto os meus, também curtiam este som e a gente passava o dia todo com a Telefunken ligada em som estereo, coisa fina na época.

O primeiro coelho que comi foi lá na casa dela. Aliás, aprendi tudo sobre coelhos, pois eles os criavam. Lembro de uma pirambeira cheia de lama que a gente subia e também lembro em detalhes dos nossos acampamentos com nossos pais, quando levávamos a lancha no reboque e íamos para lugares desertos.

A família adorava acampar, desbravar lugares, mares, pescar. Minhas primeiras confissões sobre amor foi com Marli, diante de sóis se pondo, ao som de ondas e comendo mexilhão cru da pedra ou siri pescado com puçá. Ousávamos jogar tarrafa prendendo a malha nos dentes e nossos corpinhos jovens iam junto com o chumbo. Tiramos muito afogado do mar. Soubemos o que foi a natureza no Rio de Janeiro e não acreditamos até hoje como foi acontecer de paraísos por onde passamos terem se tornado fossas ou terrenos baldios.

Ai, que saudade, Marli! Você não lerá este texto, pois está muito ocupada criando filhos e detesta computador, mas eu lanço este pps aqui, com a música Sabor a mi, em sua homenagem, no estilo bem mela cueca, do jeito que nossa família gostava.

Leila Marinho Lage
Rio, 16 de Janeiro de 2008