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Elegia 1938
Quando eu era adolescente, eu lia estas palavras diariamente, pois eu as tinha num cartaz pendurado na parede do meu quarto. Em cada época os dizeres de Drummond me diziam coisas diferentes, pois eu os interpretava de acordo com minha visão do mundo. Para mim é um poema atemporal e servirá para todas as gerações.
Talvez hoje Drummond modificasse uma coisa apenas: quando ele fala que "ao telefone perdeste muito, muitíssimo de semear". Mais adequado seria dizer: "Ao computador perdeste muito tempo de semear"...
Leila Marinho Lage
http://www.clubedadonameno.com
Elegia 1938
Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
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